quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Calvino, Reformador impopular (MC)

João Calvino, o teólogo que personifica a Reforma do cantão suíço de Genebra, nasceu no dia 10 de Julho de 1509, em Noyon, França. No próximo ano, por todo o mundo, Igrejas e organizações cristãs têm um vasto programa para assinalar os 500 anos do nascimento do Reformador, cujo pensamento teológico, eclesiológico e ético, é globalmente designado por “Calvinismo”. O Calvinismo teve, ainda em vida de Calvino, um sucesso enorme e passou rapidamente da Suíça para a França, Holanda e Escócia. O seu crescimento, nos séculos seguintes, só foi contrariado, dentro do Protestantismo, pela acção de João Wesley (1703-1791), fundador do Metodismo, e já próximo a nós pelo Pentecostalismo, formas de Protestantismo de orientação arminianista. Mas as Igrejas presbiterianas ou reformadas, que devem a sua organização à reflexão deste teólogo, continuam a considerar-se no essencial, calvinistas.

O sucesso do Calvinismo veio sempre acompanhado por muita crítica, feita não só ao pensamento do teólogo como ao seu carácter. No século passado, o ataque à figura de Calvino foi particularmente vivo num livro escrito pelo romancista austríaco Stéfan Zweig, com o título Castélio Contra Calvino (1930). Zweig era judeu e viveu, com razão, amargurado contra o fanatismo e intolerância do nazismo, que o perseguiu e obrigou a refugiar-se no Brasil, onde acabou por se suicidar com sua mulher. Na sua revolta, elegera Calvino como figura extrema de intolerância e fanatismo, o que se compreende, mas, mas neste tempo de comemoração do 500º aniversário do nascimento do Reformador impõe-se revisitar esta figura e reconhecer que há em Calvino aspectos dignos de admiração. O que é necessário é começar por olhar para Calvino no contexto do seu século, o século XVI, quando dominava na cultura ocidental um dualismo absoluto entre vida terrena e vida celeste e entre corpo e alma. O homem era então visto pela quase totalidade das pessoas como um ser que passava pela terra apenas acidentalmente, destinando-se ao Céu ou ao Inferno. A vida terrena era uma passagem de preparação e o corpo simples prisão da alma. Era, na verdade, o pensamento pagão grego que dominava o pensamento ocidental, mesmo que se apresentasse com linguagem cristã. Este dualismo opõe-se diametralmente ao pensamento dominante no ocidente desde o século XIX, em que o ser humano é visto como um ser apenas terrestre, simples “bicho da terra”, acabando tudo com a morte. Com aquela antropologia do século XVI, era natural que se aceitasse a tortura e a pena de morte como práticas correctas, já que com elas, acreditava-se, não se tocava no que era realmente importante na pessoa, a alma. Havia mesmo a possibilidade, pensava-se geralmente, de um homem que levou uma vida terrestre condenável, encontrar na morte pela fogueira a purificação dos seus pecados e alcançar assim a bem-aventurança eterna. Obviamente, o pensamento dominante dos nossos dias nada tem a ver com este dualismo e por isso os homens de hoje (excepto os crentes, claro) não podem compreender a suma importância que a religião tinha no século de Calvino. A religião hoje, para quem vê no homem um simples animal racional destinado à destruição final, é uma questão de gosto privado, no máximo tão respeitável como ser adepto do clube de futebol A ou B. Como o “homem moderno” diz que não há Deus, considera totalmente idiota os adeptos da religião A dividirem-se contra os adeptos da religião B, porque “gostos não se discutem”.

O pensamento cristão, que não concorda com o pensamento dominante do século XVI nem com o dominante neste século XXI, afirma que o homem é, de facto, corpo, alma e espírito, mas vê o homem como uma unidade inseparável, e espera a ressurreição do corpo e viver eternamente. Nesta perspectiva cristã, nem todas as doutrinas servem, nem são indiferentes as palavras que dissermos sobre Deus – mas a figura modelo é Jesus Cristo que não aprova a intolerância nem a violência, mas proclama bem-aventurados os que fazem a paz. Obviamente, um crente cristão está em desacordo com o pensamento comum do século XVI e com o pensamento comum deste século XXI.

Do seu tempo e da sua sociedade

Calvino é um homem do século XVI. Nos seus livros (principalmente na Instituição da Igreja Cristã, mas também no Verdadeiro Modo de Reformar a Igreja, nos catecismos, nos comentários da Bíblia, nos seus sermões), há fundamentalmente reflexos do ensino mais rico da Sagrada Escritura, mas temos de contar também com algumas manifestações do pensamento dominante do seu tempo. O infeliz apoio que Calvino deu à condenação à morte do médico e teólogo espanhol Miguel Servet, que rejeitava a doutrina da Trindade, é resultado dessa comunhão de Calvino com o pensamento do seu tempo. Tragédia que nos deve pôr de alerta em relação ao modo como nos deixamos ou não influenciar pelo pensamento do nosso tempo. Naturalmente, um cristão, incluindo o cristão teólogo, deve ser um homem aberto ao seu século, deve viver em comunhão com o seu tempo, mas sabendo que nem tudo o que é moderno merece o nosso apoio.

Mas há outra questão que é indispensável ter em conta quando estudamos a acção e o pensamento de Calvino. É o facto de ser em Genebra que o Reformador actuou. Genebra que, quando ele vai servi-la como pastor (1536-1538 e 1541 até à morte, em 1564), já está, em teoria pelo menos, totalmente convertida à Reforma. O Catolicismo estava completamente afastado e a cidade-estado afirmava-se uma sociedade cristã reformada. Calvino tem, pois, pela frente uma situação desafiadora que a Igreja em termos gerais não encontrava desde os tempos primitivos. Devemos lembrar que o Cristianismo primitivo emergiu com uma grande fragilidade, sendo extremamente minoritário dentro do Império Romano. Não havia, naturalmente, as mínimas condições de a Igreja do primeiro e segundo século estabelecer para a sociedade civil estruturas que dessem corpo aos ideais proclamados pelo Evangelho. Pelo contrário, o que aconteceu foi, progressivamente, a Igreja deixar-se influenciar pelo Estado (constantinização da Igreja), o que implicou a adopção de um governo hierárquico, e a separação rígida do clero e do laicado. Calvino é, entre os Reformadores, o único que encontrou, com textos bíblicos, uma estrutura eclesiástica alternativa, assegurando um papel de extrema importância ao presbítero e envolvendo pela primeira vez os leigos no governo eclesiástico. Ainda que o próprio Calvino não fosse de orientação democrática (não havia democracia nesses dias), ele é, pelo tipo de governo que quis para a Igreja, um dos pais da democracia moderna. Mas é preciso dizer: o teólogo não inventou nada: apenas procurou nas Escrituras o sistema que achava ser da vontade de Deus. Depois, com as mesmas Escrituras nas mãos, Calvino procurou as regras éticas que deviam orientar uma sociedade que se afirmava cristã. Os estudos bíblicos e teológicos que foram feitos nos séculos que nos separam de Calvino permitiram perceber que o seu esforço de criar uma espécie de teocracia cristã estava errado: o Evangelho não pretende dar receitas morais, mas pretende chamar os homens ao arrependimento e à conversão ao Reino de Deus Mateus 6:33. A teocracia de Israel, que o Antigo Testamento em muitos lugares defende, pertence a uma fase da revelação divina, como a Lei é o aio que nos leva a Cristo – mas com Jesus Cristo é inaugurado um tempo novo em que, até à Segunda Vinda, importa que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus Mateus 22:21. A Igreja deve ter uma voz profética e denunciar o mal, incluindo os erros do Estado, mas não pode ter a pretensão de querer dominar o poder civil.

Deve acrescentar-se, no entanto, que, se o desejo de Calvino de criar condições para que os valores cristãos determinassem a vida de Genebra, falhou em muitos aspectos, ele teve também muitos resultados positivos, pois escritores que viajaram para a Genebra dos tempos imediatos à acção de Calvino deixaram relatos de grande apreço pela vida cristã que ali se observava. Os frutos do ensino do Reformador perduraram pelos séculos seguintes e mesmo há poucos anos ainda Genebra era uma sociedade exemplar em civismo, com as suas Igrejas calvinistas dando testemunhos admiráveis e não foi por acaso que os dirigentes do movimento ecuménico escolheram, em 1948, esta cidade para nele instalarem a sede do Conselho Mundial de Igrejas, e os políticos escolheram-na para diversos departamentos da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como é sede da Cruz Vermelha Internacional e de muitas outras organizações filantrópicas. Hoje, nestes primeiros anos do século XXI, é ainda um cantão pacífico – mas a perturbação do mundo actual também atinge a “República de Genebra” que se orgulha de ostentar um Muro da Reforma, com as estátuas de quatro grandes reformadores calvinistas: Guilherme Farel, Teodoro de Beza, João Knox e, naturalmente, João Calvino.

Vivendo nós numa época de grande confusão religiosa e ética, em que o dinheiro domina os espíritos até mesmo dentro de “Igrejas”, que exploram os povos, temos de reconhecer que Calvino é uma figura da história que merece a nossa admiração sob muitos aspectos. A interpretação que fez do Cristianismo é por vezes, sem dúvida nenhuma, demasiado austera, mas é deste teólogo que nos ficou este princípio fundamental: “Soli Deo Gloria”, (Só a Deus seja dada glória!)

Manuel Pedro Cardoso

Outubro de 2008

quarta-feira, 23 de setembro de 2009



A MINHA GRAÇA TE BASTA
Texto: II Co 12.7-10


Por Taciano Cassimiro


Vivemos dias marcados por constantes desgraças, entre elas se destacam: a violência, pois, é crescente o numero de pessoas que são vitimadas todos os dias.
São mortes por estrangulamento, queimadas vivas, pais pedofilos, namorados descontrolados que fazem uso de armas para ameaçar e até matar a pessoas que eles dizem amar. Verdadeiramente o quadro é assustador,pois, a desgraça está por todo lado. Mais como já dizia o bom e velho apostolo Paulo, onde abundou o pecado ( desgraça ) superabundou a graça.


O apostolo Paulo já em seus dias convivia com uma serie de situações difíceis. Seu ministério foi construído em meio a lutas, lagrimas, perseguições e mortes.


A carta aos coríntios foi escrita provavelmente no ano 55 D.C, em Éfeso. Nesta epistola ele conta suas experiências, lutas e perturbações. E lamentavelmente ainda precisou defender suas apostolicidade para alguns irmãos da igreja de Corinto. Paulo ainda convivia com o chamado “ espinho na carne “. Espinho este que os teólogos tanto discutem tentando decifrar, dizer exatamente o que era tal espinho. E terminam perdendo de vista o ensino, o foco, o tema principal do texto que é “A graça de Deus”.


Em meio as suas lutas, questionamentos e provações,Paulo, recebe de Cristo que em meio a suas dificuldades, a sua graça, ou seja, A “Graça de Cristo” lhe bastaria.
Em que situações a graça de Cristo bastaria na vida de Paulo e também em nossas vidas hoje?


1. Em Meio as Lutas Existenciais

Estas lutas estão relacionadas as coisas aconteceram externamente na vida de Paulo. No capitulo 11 de II Corintios, versículo de 16-33, o apostolo apresenta varias difuldades existenciais que ele teve de enfrentar: perseguições; prisões; açoites; perigos de morte; fustigado com varas; apedrejado; naufrágios; fome e sede; frio e nudez, e até mesmo na comunidade cristã.
E não podemos esquecer do chamado espinho na carne do qual Paulo orou por três vezes, e o Senhor Jesus não atendeu sua oração da forma que ele queria. Entretanto, em meio a estas lutas existências, Aquele que nunca falha e que sempre está ao lado dos seus filhos protegendo-os, disse-lhe: A MINHA GRAÇA TE BASTA.

Em nossas vidas não é diferente, diante do desemprego, da escassez, das perseguições que muitas vezes são promovidas por irmãos da comunidade cristã. Devemos ter a certeza que a Graça de Cristo nos Basta. Só ela nos sustenta!

2. Em Meio as Lutas Espirituais

Paulo fala de um mensageiro de Satanás que está associado a questão do espinho na carne, e que de alguma forma lhe trazia sofrimentos. Está aqui a presença da força do mal que sempre tentou atrapalhar o ministério do apostolo. Por diversas vezes Paulo confrontou as forças do inimigo, e por elas o apostolo era reconhecido. Em Atos 19. 15, os espíritos malignos testificam da autoridade e integridade de Paulo, de fato fomos colocados no mundo para sermos assistidos conforme I Co 4.9. Entretanto, o propósito das forças espirituais do mal é roubar, matar e destruir.
Mesmo o apostolo tendo sido atacado de diversas formas por estas forças, jamais ele recuou, nunca desistiu, sempre avançou e isto por causa da graça de Deus em sua vida.

A Graça de Cristo em nossas vidas não permite que as forças do inimigo nos vençam. Nossa garantia está em Cristo e na sua graça.

3. Em Meio as Lutas Psicológicas
Estas lutas estão relacionadas a alma do apostolo,pois, o mesmo fala de angustias. Paulo como qualquer ser humano tinha também emoções, sentimentos. Por vezes enfrentava suas angustias que incomodava sua alma, lutava com suas próprias fraquezas.
Como era difícil para o apostolo Paulo ter que viajar sem avião, preparar seu sermão sem o auxilio da internet, visitar os irmãos e cuidar das comunidades cristãs dos quais ele era responsável como fundador, apostolo e pastor que era. Sua agenda pastoral era repleta. E humanamente falando, tem dias que qualquer pastor se sente esgotado, fragilizado e mesmo assim, com a obrigação de administrar suas lutas emocionais, que acontecem no campo onde não pode ser vista, a não ser pelo próprio Deus,ou seja, na alma. Paulo foi vitorioso também nessa luta pela Graça de Cristo.

Quantas vezes nos sentimos fadigados, depressivos, angustiados e com tantos outros problemas internos que temos de gerenciar. Conseguimos superar estes momentos porque a Graça de Cristo “ Em Meio as Lutas De Nossas Almas “ está conosco.

Conclusão

Como podemos ver a Graça de Cristo nos acompanha em todos os aspectos de nossas vidas. Em todos os momentos, sejam eles, existenciais, espirituais ou de ordem emocional, poderemos sempre contar com a “ Graça do Senhor Jesus “.

Pois,
A MINHA GRAÇA TE BASTA

sábado, 15 de agosto de 2009

ASHBEL GREEN SIMONTON, PIONEIRO DA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

A Igreja Presbiteriana do Brasil está celebrando neste ano o seu sesquicentenário. Hoje estamos presentes em todos os Estados da Federação e já temos mais de quatro mil igrejas com aproximadamente oitocentos mil membros. A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma igreja comprometida com a evangelização, a educação e a ação social. É um esteio do protestantismo pátrio. Vamos, agora, conhecer um pouco sobre o nosso missionário pioneiro, Ashbel Green Simonton. Ele foi um jovem idealista. Deixou os Estados Unidos nos tempos gloriosos de um grande reavivamento e veio para o Brasil em 1859 para plantar a Igreja Presbiteriana. Vejamos alguns aspectos de relevo em sua história:

1. Sua família - Foi o nono filho, o caçula, de uma família piedosa. Seu pai era presbítero, médico e político, tendo sido duas vezes eleito deputado para o Congresso Nacional. Simonton foi consagrado ao ministério da Palavra no batismo infantil.

2. Seu chamado para o ministério - No dia 14 de outubro de 1855, após ouvir um sermão do Dr. Charles Hodge sobre a tarefa da igreja, sentiu-se chamado para as missões. Fez o curso de teologia no seminário de Princeton, em New Jersey. Após concluí-lo, decidiu viajar para o Brasil. Quando alguém questinou o fato de ele se dedicar a um país ainda pobre e assolado por várias doenças endêmicas, ele respondeu: "A única segurança está na submissão à vontade e aos propósitos divinos. Sob a direção de Deus, o lugar de perigo é o lugar de segurança e, sem a sua presença, nenhum abrigo é seguro".

3. Seu casamento - Ao saber da enfermidade da mãe, Simonton deixou o Brasil e retornou aos Estados Unidos. Mas, ao chegar, ela já havia falecido. Simonton ficou então um ano em seu país de origem. Nesse tempo, casou-se com Helen Murdock. Após dois meses de casado, regressou ao Brasil. Em 19 de junho 1864, nove dias após nascer-lhe a filha Helen, sua adorável esposa morreu.

4. Seu trabalho - O jovem pioneiro deixou marcas profundas e indeléveis na história do presbiterianismo e da evangelização nacional:


a) organizou a escola dominical em 22 de abril de 1860 com cinco crianças, usando como livros textos: a Bíblia, o Catecismo e o Peregrino, de John Bunyan;


b) organizou a Primeira Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro em 12 de janeiro de 1862;


c) criou o primeiro jornal - A Imprensa Evangélica, em 5 de novembro de 1862;


d) organizou o primeiro presbitério, o Presbitério do Rio de Janeiro, em 17 de dezembro de 1865, quando foi ordenado ao sagrado ministério o ex-padre José Manoel da Conceição;


e) criou o primeiro seminário teológico em 14 de maio de 1867.5. Sua morte - Em 9 de dezembro de 1867, aos 34 anos de idade, morreu em São Paulo, de febre amarela, este heróico jovem desbravador. Sua irmã, esposa do Rev. Blackford, perguntou-lhe, em seus últimos lampejos de consciência: "O que será dos crentes e do trabalho que você está deixando?".


Ele respondeu: "Deus levantará alguém para tomar o meu lugar. Ele fará o seu trabalho com os seus próprios instrumentos. Nós só podemos apoiar-nos nos braços eternos e estar quietos".


Rev. Hernandes Dias Lopes

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nicolau von Zinzendorf

Biografia

Nicolau von Zinzendorf (1700-1760) foi um nobre crente que exerceu grande influência na história missionária. Quando jovem fundou com outros estudantes o que chamou de “Ordem do Grão de Mostarda”.
Em uma de suas viagens, ao visitar um Museu, viu um quadro do Senhor Jesus coroado com espinhos e uma inscrição: “Eu tudo fiz por ti, que fazes tu por mim?” E muito se emocionou. Meditou e chorou por muitos dias sobre tal frase. Após viajar para a Groenlândia seu coração tornou-se ainda mais inquieto ao ver que os esquimós da Groenlândia não conheciam a Cristo e seu choro aumentou ainda mais.

Algum tempo depois ele encontrou um amigo cristão e lhe fez um convite para ir pregar o Evangelho aos esquimós, dizendo: “Você gostaria de pregar o Evangelho aos esquimós? Mas antes que você me responda, quero que você saiba que você vai sozinho, sem sustento e sem possibilidade de voltar para casa. Você aceita o desafio?”.

Aquele homem aceitou o desafio sem pensar duas vezes. A única coisa que fez foi pedir um par de sapatos usados, pois o mesmo estava descalço e seria difícil viajar de tal forma. Na manhã seguinte, ao chegar à casa daquele cristão com o par de sapatos usados que ele havia pedido, Zinzendorf não o encontrou. Ele havia deixado um bilhete dizendo “saí de casa, descalço, antes de o sol nascer. Não posso perder tempo para fazer a obra de Cristo”.

Hoje, mais de 95% da população da Groenlândia é cristã! E tudo começou porque um homem ousado e comprometido com Jesus respondeu “SIM” ao chamado de Cristo e dedicou-se a pregar o evangelho e salvar vidas.

Nessa época, na Morávia, a Igreja que se originara após a morte de John Huss, estava sendo grandemente perseguida. O conde mandou avisar que se aqueles crentes quisessem, seriam acolhidos em suas terras, na Saxônia. Assim, muitos refugiados morávios conseguiram chegar lá e fundaram, em 1722, uma comunidade que existe até hoje, chamada Herrnhut (“sob o cuidado do Senhor” ou também “montando guarda para o Senhor”). Lá eles se auto-sustentavam. Aprenderam a viver como artesãos e desenvolveram um movimento de oração nas 24 horas do dia, nos sete dias da semana por 100 anos. Pouco tempo depois, aquela comunidade cristã, liderada por Zinzendorf, passou a ter um fortíssimo envolvimento missionário. Vários membros (principalmente jovens), começaram a se sentirem chamados para pregar em lugares distantes.

Além do comprometimento com a oração, eles também eram extremamente comprometidos com a obra missionária. Reconheciam o chamado da Grande Comissão, sabiam que precisavam pregar o Evangelho aos que nada sabiam sobre o Evangelho e entendiam que eram responsáveis por pregar o Evangelho aos perdidos. Assim, no espaço de 20 anos, a igreja dos morávios enviou mais missionários para o mundo do que todas as igrejas protestantes em 200 anos!

Os irmãos morávios, dirigidos por Zinzendorf e outros líderes, enviaram missionários para: Ilhas Virgens (1732); Groenlândia (1733); Suriname (1735); África do Sul (1736); Jamaica (1750); Canadá (1771); Austrália (1850); Tibet (1856), entre outros longínquos lugares.

Nos primeiros 100 anos de atividade (de 1732 a 1832), os irmãos morávios obtiveram o impressionante número de 40 mil membros, 209 missionários e 41 centros de missões ao redor do mundo! Em 150 anos enviaram 2.158 missionários.

Quando Zinzendorf era questionado sobre o real motivo para tão expressivo e sacrificial movimento missionário, respondia: “estamos indo buscar para o Cordeiro o galardão do Seu sacrifício”. Baseado em Isaías 53:11.

Zinzendorf morreu aos 60 anos em Herrnhut, pastoreando até o fim de seus dias.
Assim como o Senhor Jesus, foi obediente até a morte para cumprir as Escrituras.
O líder morávio procurou seguir o exemplo do Filho de Deus.

- Traduzido por: Francisco Coelho

sexta-feira, 10 de julho de 2009

JOÃO CALVINO, O CÉREBRO DA REFORMA



Na próxima sexta-feira, dia 10 de julho de 2009, no mundo inteiro, os protestantes reformados estarão celebrando o quinto centenário do nascimento do reformador João Calvino. Ele nasceu no dia 10 de julho de 1509 na França e morreu no dia 27 de maio de 1564 em Genebra, na Suíça. Calvino foi o maior expoente da reforma. Influenciou não apenas a teologia, mas, também, a economia, a política e a educação. Destacaremos quatro áreas da vida desse gigante de Deus.

1. A teologia de Calvino - O reformador João Calvino foi o sistematizador da doutrina reformada. Aos 26 anos de idade escreveu As Institutas da Religião Cristã, fazendo uma exposição do Credo Apostólico. Esta obra tornou-se a maior referência teológica de todos os tempos. É muito importante ressaltar que Calvino não foi um inovador. Ele voltou à doutrina dos apóstolos. Ele voltou às Escrituras. Ele tinha um alto conceito da Palavra de Deus e esmerou-se em ensiná-la com irrestrita fidelidade. A influência de Calvino na teologia é tão destacada, que a doutrina reformada foi cognominada depois de sua morte de Calvinismo. No Sínodo de DORT, na Holanda, mais de cinqüenta anos depois da morte do reformador, cunhou-se o que nós chamamos de cinco pontos do Calvinismo: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos.

2. A pregação de Calvino - Calvino foi um expositor bíblico. Pregou quase toda a Bíblia, usando o método lectio continua, expondo as Escrituras livro por livro, capítulo por capítulo, versículo por versículo. Calvino foi um exegeta extraordinário. Ele conhecia profundamente as línguas originais, a tal ponto de ler direto no Hebraico quando pregava no Antigo Testamento e direto no Grego quando pregava no Novo Testamento. Calvino pregava em média três vezes por semana. Ele foi essencialmente um pregador, um homem do púlpito. Para ele o púlpito era o trono de Deus na terra, de onde Deus governa o seu povo. Ouvir a exposição das Escrituras é ouvir a própria voz de Deus.

3. A prática pastoral de Calvino - Calvino não foi um homem sisudo, frio e distante das pessoas. Ao contrário, era um devotado pastor de suas ovelhas. Mesmo com uma agenda tão congestionada, ainda encontrava tempo para visitar o rebanho e orar com o seu povo. O ministério de Calvino abrangia um horizonte muito mais amplo do que apenas o cuidado da igreja local em Genebra. Ele era consultado por pastores e concílios de vários países para dar orientação à luz das Escrituras. Ele viajava para atender muitos convites. Calvino era um apologeta incomparável e ajudou a igreja do seu tempo a resolver os mais intrincados conflitos teológicos, sempre se pautando pela fiel exposição da Palavra. Mesmo atormentado por constantes dores e enfermidades, Calvino respondia inúmeras cartas, escrevia muitos livros e pregava com freqüência regular.

4. A influência social de Calvino - Calvino influenciou não apenas a igreja, mas, também, a sociedade como um todo. Ele fundou uma academia em Genebra, onde não faltou o curso de Teologia. Ele preparou missionários e os enviou para o mundo inteiro, inclusive para o Rio de Janeiro. Ele acolheu os foragidos de guerra e fez de Genebra um lar hospitaleiro para os que buscavam refúgio. Genebra foi transformada na mais esplêndida maquete do Reino de Deus na terra, sobretudo, pela pregação desse destemido reformador. Calvino influenciou a política, a cultura e a economia. Ele foi intelectual, sem deixar de ser piedoso. Ele foi um homem à frente do seu tempo. Depois de quinhentos anos de seu nascimento, ainda exerce decisiva influência em todo o mundo ocidental, especialmente no contexto das igrejas reformadas. Rendemos glórias ao nosso Deus por tão preciosa vida!


Rev. Hernandes Dias Lopes

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Batismo

por
Francis A. Schaeffer



A principio, há algumas coisas que precisamos enfatizar antes de começarmos o presente estudo:
1. Não cremos na regeneração batismal. Permita-me lembrar que nessa questão dos sacramentos, Calvino e Lutero divergiam entre si ainda durante a época da Reforma. Para Calvino, e os seus seguidores, o importante era a ida de cada individuo a Cristo para a salvação. Com respeito ao batismo, como presbiterianos que somos, estamos interessados primeiramente não no batismo de água, mas no batismo do Espírito Santo, que tem lugar quando da aceitação individual de Cristo como salvador pessoal.


Nossa Confissão de Fé, Capítulo XXVIII, Seção "v", deixa claro, os nossos padrões doutrinais não ensinam a regeneração batismal:


"Ainda que seja grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança, contudo, a graça e a salvação não se acham tão inseparavelmente ligadas com ela, sem a qual ninguém possa ser regenerado e salvo, ou, que sejam, indubitavelmente, regenerados todos os que são batizados".

Reiteramos, e de uma vez por todas, não cremos na regeneração batismal.


2. Segue-se que, antes de tudo, devemos nos lembrar que ninguém deve aceitar a nossa visão de batismo para vir para as nossas igrejas. A porta da membrezia da igreja visível local continua sendo a confiável profissão de fé, individual, no Senhor Jesus como Salvador pessoal.


3. Historicamente, os presbiterianos nâo têm enfatizado tanto o batismo. Entretanto, se nunca for ensinado ou pregado sobre isso, as pessoas esquecem os fatos biblicos acerca da nossa visão do batismo. Não devemos seguir com a nossa visão de batismo como se fosse um simples passatempo como poderiam ser vistos alguns outros ensinos periféricos. Ainda que, de fato, não seja o centro de nossa teologia, não devemos nos omitir de ensiná-la colocando-a no seu devido lugar.


4. De vez em quando há quem diga crê na nossa concepção de batismo mas não a pratica por causa dos abusos da Igreja Católica Romana. Se isso fosse razóaval, então deveriamos desistir totalmente da prática da Ceia do Senhor, porque o âmago do erro do catolicismo romano clássico foi o seu ensino acerca da Missa.


Além disso, vale lembrar que os campbelitas , "igreja cristã" que pratica a imersão e o batismo de adutos, têm entre seus erros a regeneração batismal tal como a Igreja Católica Romana mantém. Por conseguinte, sob essa ótica, os batistas deveriam deixar a imersão e o batisnmo de adulto.
Além disso, há também muitos notórios modernistas que são batistas. Deste modo o abuso do batismo pelos vários segmentos não quer dizer nada.


5. Finalmente, nessa introdução, vale lembrar que temos boa comunhão com nossos irmãos batistas. Todos percebemos que a nossa posição a respeito do batismo não deve ser o fator determinante para a nossa comunhão. Ainda mais que os batistas são convidados a tomar assento à mesa da Santa Ceia em nossas igrejas, e louvo a Deus por que somos bem vindos à Mesa da Comunhão em muitas (não todas!) igrejas de irmãos batistas, como deveria ser. Todavia, isso não deve significar que somos indiferentes quando à nossa posição acerca do batismo. Cremos que nossa visão é biblica, e que a posição de aceitar apenas o batismo por imersão, ou de somente adulto, é um equivoco.


IMERSÃO
Primeiramente, com respeito à imersão, deixe-me dizer que, pessoalmente, não teria problema em imergir quem quer que deseje esse modo de batismo Em segundo lugar, é bom lembrar que a Igreja Católica Ortodoxa Grega (e outros grupos cristãos) adota a imersão tanto de bebês como de adultos, logo, não há nenhuma ligação necessária entre a forma do batismo utilizada e a questão do batismo infantil. Eu nunca imergi um infante, mas eu não o recusaria.


De fato, conforme evidência das catacumbas anteriores ao ano 200, parece que a efusão, o derramamento, enfim, o banho, poderia ter sido a forma mais comum de batismo na igreja primitiva. Isso quer dizer que as pessoas se colocavam o mais próximo d'água, "dentro da água", e então tinham também a água derramada sobre as suas cabeças. Razão por que também a nossa posição a respeito da forma batismo é de que a imersão não é a única a ser adotada.


As palavras baptizo e bapto, no grego clássico, são usadas com grande amplitude. Nenhuma destas palavras podem ser ditas como sempre significando imersão. Na Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento, a palavra "baptizo" é usada de tal maneira que não podia de modo coerente significar sempre imersão. Por exemplo, em Daniel 4:23, na Septuaginta, diz-se que Nabucodonozor foi - literalmente, "batizado com orvalho". Certamente ninguém diria que foi imerso no orvalho.


No uso da palavra no Novo Testamento, é igualmente verdadeiro que a palavra "baptizo" não pode sempre significar a imersão. Por exemplo, em Hebreus 9:10, lemos: "sendo somente, no tocante a comidas, e bebidas, e várias abluções, umas ordenanças da carne, impostas até um tempo de reforma". A Versão King James usa "lavagens" em vez de "batismos", mas o grego diz "batismos". A tradução portuguesa de Ferreira usa "abluções". Esta passagem refere-se às limpezas cerimoniais do Antigo Testamento, tais como a novilha vermelha e ao Dia da Expiação. Essas limpezas do Antigo Testamento jamais eram feitas por imersão mas sempre por uma espécie de efusão (aspersão). Observe como o mesmo capitulo 9 de Hebreus 9, versículos 19 e 21, enfatizam o fato dessas limpezas cerimoniais do Antigo Testamento serem por efusão.


I Coríntios 10:1,2 é outra passagem semelhante: "pois não quero, irmãos, que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar; e, na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés". Neste caso os judeus certamente não foram imersos.


A passagem de Marcos 7:4 é bem clara: "e quando voltam da praça, não comem, sem se aspergirem; e há muitas outras coisas que receberam para observar, como a lavagem de copos, jarros e vasos de metal [e camas]". De novo na Versão King James aparece a palavra "lavagem". Na tradução de Almeida, edição revista e atualizada, aparece "aspergir". No entanto, no grego outra vez a palavra "baptismos" sugere "batismo". Se baptizo sempre significa imersão, equivale dizer que os judeus, cada vez que vinham da praça, tinham que encher uma banheira e se mergulharem nela, de corpo inteiro. Isto é impossível, porque a maioria deles não tinha tal acomodação em seus lares. Adiante, esta passagem diria também que eles, segundo a Versão King James, imergiriam constantemente suas mesas (vasos de metal?). Isso de novo obviamente seria impossível. Muitas das versões antigas adicionam até "camas" a esta passagem. Seria ridículo dizer que imergiam regularmente suas camas, mesmo que fossem usadas apenas esteiras.


Pelo menos em três dos batismos mencionados no Novo Testamento é difícil imaginar que foram praticados por imersão. O eunuco batizado ao longo de uma estrada no deserto . O carcereiro batizado no meio da noite . Três mil batizados no dia de Pentecostes . É fácil ver como estes ocorreram se pensarmos em termos de borrifamento ou de efusão, no entanto, é difícil caso a imersão fosse considerada como a única forma.


Argumentos Batistas


O argumento batista de que "Jesus entrou na água e saiu da água" não significa nada. No ano em que passamos férias no litoral, todos os dias uma das minhas filhas, a caçula, entrava e saia d'água, mas não punha a sua cabeça sob a água por mais que instávamos a faze-lo. É simples admitir que o significado desta passagem seja completamente cumprido se Jesus fosse para dentro do curso da água até que seus pés estiveram sob a água do Jordão.


A respeito de Romanos 6:3,4b: "porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na sua morte..." Esta passagem não pode ser usada para provar a imersão. Em primeiro lugar, se aqui significa batismo com água, muitos de nós cremos que provaria demais, teríamos então que logicamente admitir a regeneração batismal. Certamente, não é o batismo da água que nos batiza na morte de Cristo, mas o batismo do Espírito Santo. Em segundo lugar, entretanto, se isso significa o batismo de água, esta passagem significa mais do que o retrato totalmente inadequado de "sepultamento" em água pode dar. Estes versos ensinam a grande e maravilhosa realidade de que quando aceitamos a Cristo como nosso salvador nós realmente morremos com ele.


Isso que apresentamos é suficiente para mostrar que a Palavra de Deus não ensina que o batismo deve ser por imersão somente.


Por fim, a respeito deste tema da imersão somente nos lembramos que se a imersão é a única forma admissível a catolicidade dos sacramentos fica destruída. A Ceia do Senhor obviamente pode se dar em qualquer lugar. A aspersão pode ser praticada em qualquer lugar, mas se o batismo for por imersão somente, em muitas partes do mundo seria negados aos cristãos este sacramento. Aos que habitam o deserto, aos que residem em países de frio intenso, e aos que se encontram doentes de cama não poderão ser batizados por imersão, mesmo se o quisesse.
O fato é que a posição de que o batismo é apenar por imersão não é sustentável.


BATISMO INFANTIL

Não cremos que os batistas tenham qualquer base bíblica para ensinar o batismo somente de adultos, do mesmo modo que não têm em relação à imersão somente.

Ao inicio da nossa abordagem, permita-nos colocar na posição de um judeu que tenha sido salvo na era cristã primitiva. É um judeu e tem posto agora sua fé no Senhor Jesus Cristo. Sua mente não mudou de um dia para o outro, e determinadas grandes verdades que seu povo sabia e cria por dois mil anos continuam indeléveis em sua mente.

Salvação Somente pela Fé

Antes de tudo, esse judeu crente durante a era cristã primitiva podia entender que poderia ser justificado pela fé somente, Abraão foi justificado dessa maneira, também pela fé somente, dois mil anos antes. Romanos 4:1-3 indica isso de forma bastante clara: "Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Porque, se Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão a Deus, e isso lhe foi imputado como justiça." Gálatas 3:6 é justo e definitivo: "assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça".

O fato é que a Bíblia claramente enfatiza que Abraão foi justificado somente pela fé. É um sério erro crer que qualquer pessoa de qualquer dispensação foi, ou pôde ser, salva de qualquer outra maneira senão pela fé e nada além da fé. A obediência religiosa ou a prática moral não têm nenhum lugar para a salvação pessoal em todas as dispensações. Observe que é isso o que os escritos de Paulo claramente enfatizam.

A Aliança é imutável ou a Unidade da Aliança
Em segundo lugar, o judeu crente nos dias do cristianismo primitivo podia entender que a Aliança feita com Abraão é imutável, isto é, inquebrantável. Hebreus 6:13-18: "Porque, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha outro maior por quem jurar, jurou por si mesmo, dizendo: Certamente te abençoarei, e grandemente te multiplicarei. E assim, tendo Abraão esperado com paciência, alcançou a promessa. Pois os homens juram por quem é maior do que eles, e o juramento para confirmação é, para eles, o fim de toda contenda. assim que, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu conselho, se interpôs com juramento; para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos poderosa consolação, nós, os que nos refugiamos em lançar mão da esperança proposta".

Esta passagem é muito determinativa. Primeiro, a aliança feita com Abraão é imutável, e, segundo, inclui-nos os que são salvos nesta dispensação.

A Aliança é Primordialmente Espiritual
O crente judeu a que estamos aludindo se lembraria também que a Aliança feita com Abraão era primeiramente espiritual. Para os que como nós somos gentios, salvos nesta era, as promessas nacionais feitas aos judeus não se aplicam, mas permanecem as promessas espirituais. O texto de Romanos 4:16 é claro a respeito disso. Antes o versículo 13 nos diz que definitivamente Deus está falando aqui da promessa a Abraão, no entanto, o verso 16 é igualmente claro em declarar que nós os gentios, salvos nesta era atual, somos o cumprimento dessa promessa. "Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós". Conseqüentemente, a promessa não podia ser primeiramente nacional, mas espiritual. Gálatas 3:7,8,13,14 e 25 diz-nos exatamente isso. Nós, cristãos gentios, somos o cumprimento da promessa feita a Abraão; conseqüentemente, (embora há naturalmente uma parte nacional da aliança abraâmica) a promessa é não primeiramente nacional mas espiritual. Estas passagens mostram também que há uma unidade espiritual em todas os dispensações.
Gálatas 3:17 é suficientemente claro que a promessa espiritual feita a Abraão não foi desconsiderada quando da outorga da Lei Mosaica, quatrocentos e trinta anos depois. A unidade espiritual não foi quebrada na entrega da Lei no Sinai.

O crente judeu, conseqüentemente, teria em sua mente que Abraão foi salvo da mesma maneira que nós somos salvos; e que a promessa feita a Abraão é imutável e primeiramente espiritual; além disso, nós que somos salvos nesta dispensação estamos incluídos nessa promessa. Teria na mente a unidade da aliança.

O Sinal Externo
O cristão judeu poderia lembrar também que a promessa espiritual nos dias do Antigo Testamento era selada com um sinal físico. Romanos 4:10, 1la: "como, pois, lhe foi imputada? Estando na circuncisão, ou na incircuncisão? Não na circuncisão, mas sim na incircuncisão. E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé que teve quando ainda não era circuncidado". Esta passagem diz que Abraão foi justificado pela fé, e depois que foi justificado, a circuncisão foi dada enquanto um selo da justiça da sua fé que teve antes de circuncidado.

Tanto o Antigo Testamento como o Novo nos fazem lembrar que a circuncisão da carne devia ser um sinal externo da verdadeira circuncisão do coração. Ou seja, a verdadeira circuncisão era algo espiritual. Deuteronômio 10:16 consta: "Circuncidai, pois, o prepúcio do vosso coração, e não mais endureçais a vossa cerviz". Romanos 2:28, 29 diz a mesma coisa: "porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus". A circuncisão era conseqüentemente antes de tudo espiritual.

Ademais, não devemos nunca nos esquecer que a circuncisão não foi apenas para os tempos da fé de Abraão, mas é um sinal da fé pessoal do pai. O exemplo do prosélito e de seus filhos prova isso. Êxodo 12;48; "Quando, porém, algum estrangeiro peregrinar entre vós e quiser celebrar a páscoa ao Senhor, circuncidem-se todos os seus varões; então se chegará e a celebrará, e será como o natural da terra; mas nenhum incircunciso comerá dela". Ou seja, quando um gentio se transformou em um crente verdadeiro no Deus vivo e quisesse fazer parte nas observâncias religiosas da Páscoa, antes de qualquer coisa devia ser circuncidado, mas todos seus filhos tinham que ser circuncidados também. Assim, a circuncisão era o sinal da fé pessoal e não apenas da fé de Abraão.

Conseqüentemente, o judeu converso, alcançado pela salvação na era cristã primitiva, lembrar-se-ia que a promessa não feita somente a Abrão que era primeiramente espiritual, mas o selo externo, que foi dado para mostrar a fé do indivíduo, também devia primeiramente ter um significado espiritual.

Isso, evidentemente, é o que é o batismo Novo Testamento; e, conseqüentemente, a circuncisão no Antigo Testamento era o que nessa dispensação é o batismo, Colossenses 2:11, 12 é a prova bíblica cabal disso, quando temos: "no qual também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo; tendo sido sepultados com ele no batismo". E assim que a Bíblia declara que a circuncisão no Antigo Testamento era o que o batismo é no Novo Testamento.

Sinal Aplicado aos Infantes
Agora, no entanto, levando em considerando que o batismo no Novo era o que a circuncisão era no Antigo, o judeu de quem falamos, salvo nos primeiros dias da era cristã, saberia também que, no Antigo Testamento, a circuncisão como um sinal da fé pessoal era aplicado não somente ao crente individual, mas também a todos os infantes do sexo masculino da casa.

Aplicando este sinal aos infantes do sexo masculino ano Antigo Testamento, a circuncisão era primeiramente espiritual e não apenas nacional. O sinal não foi aplicado somente em Isaac que era o único representante da benção racial, mas a Ismael também. Deuteronômio 30:6 é claro quando afirma que circuncisão da criança era primeiramente espiritual tanto quando a circuncisão do adulto: "Também o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, a fim de que ames ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma, para que vivas."

O judeu vivendo nos dias primitivos do Novo Testamento saberia ainda algo mais. Saberia que no Antigo Testamento havia duas grandes ordenanças a Páscoa e a Circuncisão. I Coríntios 5:7,8, do mesmo modo afirma o fato de que Cristo instituiu a Ceia do Senhor na mesma medida da Páscoa, esclarecendo que a Ceia do Senhor tomou o lugar da Páscoa. Em Colossenses 2:11, 12 e outros fatos nos mostram evidentemente que o batismo tomou o lugar da circuncisão.

Sendo assim todas essas coisas seria impossível para o judeu crente não esperar que no Antigo Testamento o sinal da aliança era aplicado aos filhos dos crentes. O sinal de sua fé, o batismo, deve do mesmo modo ser aplicado ao seu filho. Por que deveria esperar menos nesta dispensação de cumprimento do que possuía no tempo do Antigo Testamento?

A Prática do Novo Testamento
Essas questões podem ficar mais graves tendo em vista aquilo que este judeu crente por si próprio pode ter ouvido ensinar-se no tempo do Novo Testamento. Por exemplo, pode ter ouvido Pedro em seu sermão no dia de Pentecostes, Atos 2: 38, 39: "Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar". Lembre-se, Pedro disse isso aos judeus, os judeus que costumavam ter o sinal externo de sua fé aplicado aos seus filhos.

Com todas essas coisas em mente, esperaria que seu filho fosse batizado. Se isso fosse refutado, o que você faria no lugar dele? Você pediria aos Apóstolos a razão por que disso. Assim como os milhares de judeus cristãos nesse dia. A pergunta seria feita em centenas de reuniões; e Pedro, João Paulo e outros deveriam assentar-se e escrever em suas epistolas para esclarecer o assunto, assim como responderam em relação a outras perguntas que se levantaram. O Novo Testamento conteria a resposta clara acerca do porquê no Antig0o Testamento o sinal da Aliança era aplicado aos filhos dos crentes, mas no Novo Testamento isso deveria ser-lhes retido.

A única razão possível para o Novo Testamento não contemplar este problema é que este problema não existiu. A única razão possível que não havia nenhum problema nas mentes dos judeus era que os judeus criam que aplicavam o sinal da aliança aos seus filhos. Batizavam os seus filhos recém-nascidos assim os circuncidavam na dispensação do Antigo Testamento.

À luz do ensino da Bíblia toda, deveria ter um claro mandamento na Escritura para não faze-lo como razão por que não se batizarem os bebês. Em vez disso, a ênfase é toda para outro caminho. Dos sete exemplos de batismo de água mencionados no Novo Testamento, três eram de famílias. Alguém pode dizer, "mas não se diz que infantes estavam envolvidos". Posso pontuar que à luz da expectativa natural do judeu crentes, se os bebês não fossem batizados, a Escritura teria deixado isso claro se tivesse sido o caso. Deus trata com famílias no A.T. e no N. T. também. A promessa feita ao carcereiro de Filipos em Atos 16:31b, "e serás salvo, tu e tua casa", mostra adequadamente isso. Não importa a interpretação que individualmente adotamos acerca dessa passagem, temos certamente que Deus aqui demonstra que trata com famílias não somente no Antigo Testamento mas também no Novo Testamento.

Nunca nos esqueçamos, o uso por Deus de símbolos é encontrado em todas as épocas. Deus deu a Noé o arco-íris, deu a circuncisão e páscoa aos judeus no Antigo Testamento. Deu à igreja visível nessa dispensação os sacramentos do batismo e da ceia do Senhor.

A mudança dispensacional da circuncisão para o batismo não é mais do que equivalente àquela da mudança do sétimo dia para o primeiro como o dia da adoração.

História da Igreja
A história da igreja* continua com a mesma lição a respeito do batismo infantil. Orígenes nasceu em cerca de 180 A.D. e se batizou como um infante, lembre-se, oito anos ou menos após a morte do Apóstolo João. Há ainda umas referências mais antigas que parecem falar do batismo infantil, mas não há nenhuma dúvida quando ao exemplo de Orígenes. Uns primeiros deles eram contrários ao batismo infantil, Tertuliano por exemplo, não porqwue se tratava de prática nova que estava sendo trazida para dentro da Igreja, mas porque esposavam posição não-bíblica de que se deveria esperar até imediatamente antes da morte para se batizar. Seus argumentos são conseqüentemente uma prova incidental de que a igreja batizava os infantes desde o seu inicio. Se fosse uma inovação, estes homens que eram contra ela por causa de seus pontos de vistas não-bíblicos se deleitariam em ter indicado que o batismo infantil não era uma prática apostólica. Santo Agostinho, escrevendo a respeito do batismo infantil, disse, "esta doutrina é sustentada pela igreja inteira, não foi instituída por concílios, mas foi desde sempre retida". Quem ensina que a prática da igreja primitiva não era o batismo infantil precisa mostrar na história da igreja quando ela começou. Não há nenhuma quebra de continuidade registrada.

À luz disso, a reivindicação de que o batismo infantil é um produto da igreja católica romana é totalmente equivocada.

Conseqüentemente, agora, quase quatro mil anos desde os dias de Abraão, os que foram salvos pela fé eram marcados conforme o mandamento de Deus por um sinal externo, e neste sinal externo, sem uma pausa, eram aplicados não somente a eles mas aos seus filhos menores.

Cremos no batismo infantil por causa da unidade das promessas espirituais em todos as dispensações. As promessas nacionais são para os judeus apenas, mas há uma unidade das promessas espirituais por toda a Palavra de Deus. A base desta unidade é o grande fato central da Escritura de que todos os homens de todas as eras eram salvos com base na obra consumada de Cristo mediante a fé n'Ele, mais nada, ou não são salvos em tudo. Esta unidade espiritual não prejudica o fato das diferenças entre as eras diferentes, nem prejudica os nossos privilégios peculiares como os que são salvos e vivem nesta era.

Argumentos Batistas
Deixe-nos passar em revista os mais usuais argumentos batistas contrários ao batismo infantil.

a) "Crer e ser batizado". Observe que a mesma coisa com efeito foi dita de fato a Abraão com respeito à circuncisão, "creia e depois seja circuncidado", mas é bastante claro que o sinal de sua fé pessoal devia ser aplicado também ao seu filho.

Ademais, no exemplo dos primeiros dias da era cristã, todos os que criam eram os que tinham necessidade de se batizarem em adulto, porque, o Novo Testamento ensina que sendo recente, ninguém poderia ter sido batizado antes como infante. A mesma coisa é verdadeira em todo o novo campo missionário. Não há nenhum infante batizado até que haja alguns pais cristãos.

b) Freqüentemente os batistas perguntam porque batizamos meninos e meninas, quando somente os machos eram circuncidados no Antigo Testamento. Gálatas 3:28 dá a resposta: "Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". Nesta era, diante do Senhor em adoração, não há nenhuma diferença entre o homem e a mulher.

c) Por vezes, é feita a pergunta, "se o batismo tomou o lugar da circuncisão, porque o batismo e a circuncisão existiram, lado a lado, por um tempo, entre os cristãos judeus?" Muitos crentes judeus na igreja cristã primitiva mantiveram várias práticas do Antigo Testamento ao menos até à época da destruição de Jerusalém. Em todo esse tempo eles não pensavam em como adicionar algo à obra consumada de Cristo para a salvação pessoal. Observe a circuncisão de Paulo em consideração a Timóteo, Atos 16:3, e também de sua participação no serviço do templo, Atos 21:20, 26. A Bíblia diz que Paulo fez estas coisas por causa dos judeus crendo que mantinham ainda estas práticas. A resposta, conseqüentemente, a respeito de porque o batismo e a circuncisão existiram juntas por um momento é que esta era parte do esclarecimento gradual das mudanças dispensacionais.

d) Talvez o argumento mais usado pelos batistas é que não há nenhum mandamento definitivo na Escritura para batizar crianças. Não há também nenhum mandamento na Escritura para mudar o dia da adoração do sétimo dia para o primeiro. Em determinadas partes dos Estados Unidos, há um conhecido grupo pequeno de batistas do sétimo-dia. Sinto que estão equivocados em ambas alegações, mas ao menos têm o mérito da consistência. Para ser consistentes todos que os batistas devem adorar no sétimo dia.

CONCLUSÃO
Em conclusão, já que batizamos os nossos filhos recém-nascidos, compreendam que não é por uma questão de mágica. Como pais, devemos entrar em aliança com Deus prometendo ser fiéis a Ele diante da criança. É papel dos pais educar a criança. É privilégio dos pais em muitos casos conduzir a criança a Cristo. Os pais cristãos não devem depender dos esforços evangelísticos da igreja direcionados à criança quando se transforma num adolescente, ou mesmo em um adulto pleno, para conduzir-la a Cristo. A criança pequena deve aprender de Jesus Cristo de seus pais desde a mais tenra infância, e em muitos casos, contudo, uma criança deve ser conduzida a uma aceitação pessoal do Senhor Jesus Cristo como seu salvador por seu pai ou por sua mãe.

Aproveite o privilégio que Deus nos dá do batismo infantil. Os corações dos pais crentes, movidos e guiados pela habitação do Espírito Santo, têm o impulso natural de levar seus filhos a Deus. Isto é tão forte que mesmo os que são batistas vão ao lugar de dedicação de suas crianças. Não há nenhum mandamento para a dedicação das crianças no novo Testamento, mas o pai crente sente tal impulso e na maioria das igrejas batistas há a necessidade destes serviços de dedicação das crianças. Não estão errados nisso - seu único erro é que não vão suficientemente longe.

Não encerraremos sem dizer o que Deus pretende conosco como pais cristãos. Se você for um cristão, seu filho é um filho da aliança, Deus pretende que tenhamos o seu sinal de compromisso da aliança. Como pai nascido de novo, é seu privilégio aplicá-lo.

No Antigo Testamento, Deus disciplinava quem que não circuncidava os seus filhos. Para o desgosto deles esse foi o caso de Moisés e Zípora. Deus não trata desta maneira o seu povo nesta época. Nós não somos consumidos quando colhemos espigas no Dia do Senhor, mas no entanto guardamos o Dia do Senhor porque amamos o nosso Senhor. Não somos mortos nesta era por não batizarmos nossos filhos, não obstante devemos fazê-lo porque Deus quer façamos. O batismo de seus filhos é parte de seu privilégio como cristão. Faça isso com ações de graça junto com as outras coisas boas que Deus lhe dá.

Perguntas que devem ser publicamente respondidas pelos pais antes do batismo dos seus filhos.

1. Vocês por si próprios são salvos pela fé em Cristo, não por causa de qualquer coisa tenha feito ou fará, mas simplesmente pela na obra consumada por Cristo na Cruz do Calvário - e por isso que morreu no espaço e tempo, na história?

2. Você compreende que esta não é uma ordenança salvífica e que esta criança terá que aceitar Cristo como seu próprio salvador quando chegar à idade da responsabilidade?

3. Você tem se comprometido com Deus em dar a Ele de volta essa criança, do modo que, se Deus aprouver chamá-la para Si, sem queixar-se d'Ele caso isso aconteça, ou se essa criança crescer e chegar a fase adulta for chamada de alguma forma para o serviço cristão especial, você não o embaraçará mas antes o incentivará a seguir a sua missão?

4. Você entende que este sacramento não é uma questão de mágica, mas isso nele você se compromete com Deus no sentido de educar a criança no temor e admoestação do Senhor, orar por ela e com ela, mantê-la na casa de Deus e com o povo de Deus, para ser fiel em sua vida familiar com Cristo enquanto você vive junto com ela, e fazer o máximo que puder para pessoalmente conduzir-lhe a um conhecimento salvífico de Cristo em uma idade mais adiantada?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Batismo Infantil




Iniciamos este estudo lembrando da célebre frase de John Wesley:

"Quanto a todas as opiniões que não danificam as raízes do cristianismo, nós pensamos e deixamos pensar".

O que evoca a inesquecível frase do Bispo Agostinho acerca da liberdade do cristão: "No essencial unidade, no não essencial liberdade, em tudo caridade."

Introdução

“O batismo é símbolo da nova aliança da graça, do mesmo modo que a circuncisão era símbolo da velha aliança. Considerando-se que as criancinhas são reconhecidas como sendo incluídas na redenção, afirmamos que elas podem ser batizadas mediante o pedido dos pais, ou tutores, os quais deverão comprometer-se lhes dar a devida formação cristã. Os que foram batizados na infância serão obrigados a reafirmar o voto de batismo, por eles mesmos, antes de serem admitidos como membros da igreja” (Livro de Disciplina da Igreja Metodista Livre A/123).

O batismo não é principalmente um sinal de arrependimento e fé da parte dos batizados. É um sinal da aliança e da obra de Salvação de Cristo realizada na Cruz. É sinal da eleição graciosa da parte do Pai: “assim como nos escolheu nEle antes da fundação do mundo...” (Ef 1.4; cf. Jo 15.16; Gn 12.1). Prega o próprio Cristo como Aquele que já morreu e ressuscitou, de modo que todos estão mortos e ressurretos nEle (2 Co 5.14; Cl 3.1). Esta obra vicária deve ser pregada a todos, e o sinal e o selo pode ser estendido não somente aqueles que já corresponderam a ela, como também aos filhos destes, que estão sendo educados na atmosfera cristã com o conhecimento daquilo que Deus já fez de uma vez por todas em Cristo, e isto de modo totalmente suficiente. Finalmente, o batismo é sinal da obra regeneradora do Espírito (Tt 3.5). O Espírito Santo é soberano (Jo 3.8). Ele freqüentemente está presente antes de Seu ministério ser percebido, e Sua operação não precisa ser necessariamente acompanhada por nossa apreensão dela. Pois o Espírito Santo trabalha para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). Ele não despreza as mentes dos infantes como objetos condignos para começar a Sua obra. Exemplos: João Batista foi movido pelo Espírito Santo no ventre de sua mãe, quando da aproximação de Maria, que estava grávida de Jesus: “Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito Santo” (Lc 1:41). Jesus disse que das criancinhas que ainda estão na fase de amamentação oferecem perfeito louvor a Deus: “Ouves o que estes estão dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim; nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianças de peito tiraste perfeito louvor?” (Mt 21:16).

Quando chegam à maturidade é necessário que aqueles que foram batizados quando criança façam então sua profissão de fé. Mas assim fazem com o testemunho claro de que não é isto que os salva, mas, sim, a obra de Deus já feita a favor deles antes de crerem. Surge a possibilidade, naturalmente, de que não farão esta confissão, ou que não a farão de modo formal. Mas um modo diferente de administração não conseguirá evitar esta possibilidade. É um problema de pregação e ensino. E mesmo se não crerem, ou se crerem apenas nominalmente, seu batismo prévio como sinal da obra de Deus será um testemunho constante para chamá-los de volta.

Razões bíblicas:
 
Antigo Testamento

Vamos começar examinando o Antigo Testamento, pois todos os ensinos do Novo Testamento têm suas raízes pedagógicas no Antigo Testamento. Todas as prefigurações do batismo encontradas no Antigo Testamento favorecem o ponto de vista de que Deus lida com famílias mais do que com indivíduos. Quando Noé foi salvo do dilúvio, toda sua família é recebida com ele na arca (cf. 1Pe 3.20-21). Romanos 4:11 E que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que crêem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça, Quando Abraão recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé (Rm 4.11), é ordenado a aplicá-lo a todos os membros do sexo masculino da sua família como um sinal da salvação que possuem por pertencerem ao povo de Deus: "Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; será isso por sinal de aliança entre mim e vós" (Gn. 17:11). Em Cl 2.11-12, Paulo faz uma associação entre o batismo e a circuncisão, chamando o batismo cristão de circuncisão de Cristo. No Mar Vermelho, todo o Israel, incluindo crianças, passa pelas águas no grande ato de redenção que prefigura não somente o sinal do batismo como também a obra de Deus que está por trás dele. É isto mesmo que Paulo está dizendo em 1 Co 10.1-2: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés”. Moisés aspergiu sangue sobre todo o povo, incluindo crianças (Hb 9.19). Deus convocou adultos e crianças para entrarem em aliança com Ele (Dt 29.10-12). Josué disse: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15). “Mas a misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre os que o temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos” (Salmos 103:17).

Novo Testamento

Já, no Novo Testamento, é bem provável que as crianças tenham sido incluídas nos batismos de famílias inteiras em Atos: família da Lídia (16.15), do Carcereiro (16.32, 33), de Crispo (18.8) e Estéfanas (1 Co 1.16). Encontramos ainda vários textos relevantes que revelam progressos no tratamento dispensado às crianças em relação à prática comum até então: Jesus se torna um bebê concebido pelo Espírito Santo. João Batista, também, fica cheio do Espírito Santo desde o ventre da sua mãe, de modo que poderia ser um candidato ao batismo (Lc 1.39-45; cf. At 10.47 “Porventura pode alguém recusar a água para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?”). Cristo acolhe e abençoa os pequeninos (Mt 19.13-14) e fica zangado quando seus discípulos os repreendem (Mc 10.14). Ele diz que as coisas de Deus são reveladas aos pequeninos mais do que aos sábios e entendidos (Lc 10.21). Ele retoma a declaração do Sl 8.2 no tocante ao louvor da boca de crianças de peito (Mt 21.16). Adverte contra o perigo de alguém ser um tropeço para os pequeninos que crêem nEle (Mt 18.6), e no mesmo contexto nos diz que, como cristãos, não temos de nos tornar adultos, mas, sim crianças. Jesus descreveu a condição espiritual especial destes pequeninos, dizendo: “Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste” (Mt 18:10). Na primeira pregação da Igreja, Pedro diz que a promessa do Espírito é para os filhos também e não apenas para os adultos: “Respondeu-lhes Pedro: arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos...” (At 2.38,39). Nas epístolas existem palavras dirigidas especialmente às crianças em Efésios, Colossenses e 1 Jo.

Em 1 Co 7.14, Paulo diz que os filhos de um casal, onde pelo menos um dos pais é crente, são “santos”, o que certamente significa que pertencem ao povo da aliança, tendo, portanto, também o direito ao sinal desta aliança. Uma pergunta que se faz necessária aqui é: Os filhos dos crentes devem ser considerados cristãos ou pagãos? As crianças eram incluídas na antiga aliança, eram circuncidadas e participavam da Páscoa, que eram os sinais daquela aliança, por que razão as crianças deveriam ser impedidas de participar dos sinais da nova aliança? A Nova Aliança não é superior a antiga? Porventura a nova aliança não inclui igualmente, e, por que não dizer, até principalmente os pequeninos? Quando é que se dá ou deveria se dar a conversão de alguém nascido em lar cristão? Precisaria ele experimentar uma crise de conversão? Não deveriam, os filhos de cristãos, serem abençoados e dedicados a Deus como cristãos, ensinados como cristãos, considerados como cristãos desde o seu nascimento?

“Visto que as crianças cristãs pertencem tão obviamente a Deus, como podemos negar-lhes o sinal dessa posse?” (Zuínglio).

Temos vários exemplos no Novo Testamento de filhos sendo grandemente abençoados por causa da fé do pais. A ressurreição da filha de Jairo (Mateus 9:18-19, 23-26), O pai de um epiléptico pediu que Jesus curasse o seu filho (Mt 17:14-18), a ressurreição do filho da viúva de Naim, episódio em que Jesus teve compaixão da mulher, e favoreceu o filho por causa da mãe (Lc 7:11-17), a cura do filho de um oficial da cidade de Cafarnaum (João 4:46-54).

Razões Históricas

O Batismo Infantil era prática comum nos tempos da Igreja Primitiva
O batismo infantil era praticado nos tempos da igreja primitiva, atestado já em Justino Mártir (130 d.C. -Apol.I.15), Irineu (180), Orígenes (230), que alegavam estarem seguindo o exemplo que também batizavam crianças (Enciclopédia Histórico Teológica da Igreja Cristã, v. 1, p. 157). O batismo infantil era algo normal, tanto que não causava surpresa nem questionamentos, pois estava em conformidade com o ensinamento de Jesus Cristo e dos apóstolos .

Irineu, que foi discípulo de Policarpo, um discípulo do apóstolo João, foi batizado quando criança. Ele afirmou: "A igreja aprendeu dos apóstolos a ministrar o batismo a crianças" e, em 180 d.C., Irineu afirma também que “Jesus veio para salvar a todos que são renascidos através dele em Deus: recém nascidos, crianças, adolescentes, jovens e adultos” (Adv. Haer., livro II, 22.4; 39). O termo “renascidos”, para os pais da Igreja, é termo técnico para o “batismo”.

Na Constituição Eclesiástica de Roma, formulada por Hipólito em 215, encontramos a frase: “Primeiro devemos batizar os pequenos. Todos que podem falar por si mesmos. Para aqueles que ainda não sabem falar, falem seus pais ou alguém que pertença à família” (Const.Ecl. XVI, 4).

Orígenes, que foi o mais completo conhecedor da Bíblia entre os escritores da Igreja primitiva, nascido na Grécia no ano de 185 d.C., cujo avô e bisavô eram cristãos quando os apóstolos ainda eram vivos. Orígenes, em seu comentário à carta de Romanos, afirma: “A igreja recebeu dos apóstolos a tradição de batizar também os recém nascidos” (Epist. ad. Rom. Livro V, 9 Hom. in Lev., VIII. 4). Sabemos também que o próprio Orígenes foi batizado quando criança.

Ireneu de Lião (sec III) considera óbvia a presença de "crianças e pequeninos" , entre os batizados em geral (Contra as Heresias II,24,4;).

Hermas, contemporâneo do apostolo Paulo (Veja Rm 16.14), fala de crianças que receberam o selo do batismo, nestas palavras: "Ora, esse selo é a água do batismo".

Clemente, que viveu com o apóstolo Paulo (Fl 4.3), aconselhava os pais: "Batizai os vossos filhos e criai-vos na disciplina e correção do Senhor".

O "Didaqué" (manual da Igreja Antiga, também conhecido como doutrina dos doze apóstolos) prescreve o batismo de crianças.

Tertuliano (De Bapt., 18).

Cipriano afirma que o batismo de crianças era prática comum dos cristãos. Em 258, ele escreve: "Do batismo e da graça não devemos afastar as crianças" (carta a Fido). No século III , um sínodo do Norte da África determinou que era permitido batizar as crianças "já a partir do segundo ou terceiro dia após o nascimento" (Epístola 64 de São Cipriano). O Concílio de Cartago recebeu consulta se era lícito batizar crianças antes de oito dias. O que significa que a prática do batismo infantil após o oitavo dia de vida era comum.

Agostinho dizia: "Desde a Antigüidade a Igreja tem observado o batismo infantil" e ainda, " O costume de nossa igreja mãe de batizar crianças não deve ser desconhecido nem tido como desnecessário; nem se deve crer que seja algo mais do que uma ordenança que nos foi entregue pelos apóstolos" dizia ainda: Não foi instituído por concílios mas sempre esteve em uso". Estas afirmações foram feitas e o batismo de criança estava sendo praticado antes do desvio do catolicismo, pois os relatos dos pais da Igreja sobre a prática do mesmo, são do período em que a Igreja Cristã estava vivendo o Evangelho na sua "pureza". Lutero condenou o rebatismo duramente. Para ele, quem rebatiza um adulto batizado como criança “blasfema e profana o sacramento em sumo grau” (Catecismo Maior IV, 55).

Esta propagação do batismo de crianças na Igreja Antiga, certamente deu-se pela convicção de que no batismo é Deus que age na vida do batizando, enquanto que este apenas recebe o batismo. A fé, neste caso, é fruto do batismo, ou seja, do agir de Deus. Outro motivo que permitiu a difusão do Batismo de crianças na Igreja Antiga, certamente, foi a convicção de que a Igreja precede o cristão individual como o espaço do senhorio de Cristo onde o Espírito Santo atua e como comunhão dos que crêem e mutuamente sustentam e fortalecem sua fé. Neste sentido, a fé da Igreja sempre precede à do batizando, seja ele adulto ou criança.

Portanto, os Pais da Igreja consideravam o Batismo de crianças uma tradição apostólica, e, por esta razão, foi uma prática comum desde os tempos da Igreja Primitiva. Somente no século XVI, com o surgimento do movimento anabatista é que se começou a questionar 1.500 anos de história da prática do batismo infantil. Lutero, no entanto, condenou o rebatismo duramente. Para ele, quem rebatiza um adulto batizado como criança “blasfema e profana o sacramento em sumo grau” (Catecismo Maior IV, 55). Para Lutero, porém, a obra do Batismo e sua validade para o ser humano dependem exclusivamente da obra que Deus realiza neste sacramento. A fé, ainda que imprescindível, apenas recebe o batismo, confiando na sua obra. Por isso, o Batismo de crianças é válido mesmo que a fé e a confiança no sacramento cheguem mais tarde. Aliás, nem é possível dizer que o batismo de crianças aconteça sem fé. Os pais, os padrinhos, as madrinhas e toda a igreja agem em fé e em esperança: “Levamos a criança ao batismo com o ânimo e na esperança que ela creia; e rogamos que Deus lhe dê a fé” (Catecismo Maior IV, 57). Este, porém, ainda não é o argumento maior que permite Lutero batizar – sejam crianças ou adultos. O batismo acontece porque a Igreja age em obediência ao mandato divino: “Não é, porém, à vista disso que a batizamos, mas unicamente porque Deus o ordenou” (Catecismo Maior IV, 57). E, no Catecismo de Heidelberg, cap. XXVII, temos a pergunta de número 74, que diz: "As crianças devem ser baptizadas?" A resposta é a seguinte: "Sim. Elas pertencem tanto como os adultos à aliança de Deus e à sua Igreja (Gén.17:7). Visto que a remissão dos pecados (Mt.19: 14) e o Espírito Santo, que produz a fé, lhes são prometidos não menos que aos adultos (Luc. 1: 14, Sal. 22: 11, Is. 44: 1-3, Act. 2: 39), devem ser incorporadas pelo baptismo, que é o sinal da aliança, à Igreja cristã e serem distinguidas dos filhos dos incrédulos (Act. 10: 47), como se fazia no Antigo Testamento pela circuncisão (Gén. 17: 14), em cujo lugar no Novo Testamento foi o Baptismo instituído (Col.2:11-13).

A Responsabilidade dos pais

Os pais têm uma grande responsabilidade sobre a fé e a educação religiosa dos seus filhos (Dt 6.6-7). Temos na Bíblia a promessa de que os filhos bem educados no caminho do Senhor não irão se desviar dele (Pv 22.6). Sendo assim, os pais devem guiar seus filhos, através da instrução e do exemplo, no caminho da vida eterna. A promessa do Espírito e da salvação não se restringe aos adultos, mas se estende aos filhos (At 2.38). Um pai ouve de Paulo que seu ato de fé em Deus abriria a porta da salvação a toda a sua casa (At 16.31). Quando Zaqueu se converteu, Jesus declarou: “hoje veio salvação para esta casa” (Lc 19.9). A Bíblia ensina também que a “oração de um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5) e, como já vimos, que uma mulher crente, por exemplo, santifica sua família a ponto dos seus filhos serem contados entre os “santos” (1 Co 7.14). (Recomendamos a leitura do seguinte artigo sobre Batismo Infantil: http://ejesus.com.br/conteudo/3731/ )

Ainda sobre este tema, ler também os parágrafos A/901 - A/902, do livro de disciplina da Igreja Metodista Livre.

Respondendo às objeções mais comuns
 
1. Não existe mandamento para batizar crianças

E nem era necessário, pois as crianças que eram filhas dos crentes sempre foram reconhecidas como membros da igreja visível do Antigo Testamento. Seria de se esperar o contrário: um mandamento para não mais incluí-las na igreja do Novo Testamento.

2. As crianças não preenchem as condições necessárias: arrependimento e fé

Textos que mencionam arrependimento e fé como condição para o batismo foram dirigidos a primeira geração de convertidos. Pois, o mesmo argumento as excluiria do céu! “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” (Lc 13:3). “Quem nele crê não é condenado; o que não crê já está condenado” (Jo 3:18). Mesmo aqueles que condenam o batismo infantil não são capazes de concluir que estariam condenadas as criancinhas que não tem idade para se arrepender e exercer fé. Portanto, concluímos que tais textos se dirigem àqueles que têm idade para responder com arrependimento e fé e não formam uma legislação aplicável aos infantes. A Bíblia também diz: ‘‘Quem não trabalha não coma’’. E as crianças?! Devemos deixá-las com fome, porque não podem trabalhar?!

No AT as crianças de Israel também não poderiam se arrepender e ter fé nas promessas, que eram condições para a salvação também nos tempos do Antigo Testamento, mas mesmo assim eram circuncidadas e consideradas membros do povo de Deus. Abraão, por exemplo, creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça, recebendo a seguir o sinal da aliança, que foi também aplicado a seus filhos, ainda que não tivessem idade para exercer fé em Deus (Gn 17). Como o sinal da justificação de Abraão pode ser aplicada a seu filho que ainda não tinha idade para crer?

A CEIA DO SENHOR E AS CRIANÇAS
 
Não foi por acaso que Jesus, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do Mundo, morreu na semana da páscoa judaica. Jesus, na véspera de sua morte, reuniu o seus discípulos para a celebração da Páscoa e a transformou na celebração da sua própria Páscoa, revelando que os princípios de redenção da Páscoa e do Êxodo do povo hebreu encontram pleno cumprimento em seu sacrifício na cruz. As crianças eram incluídas na aliança do Antigo Testamento, tendo acesso aos sinais do pacto tanto da circuncisão como da Páscoa. Toda a família, incluindo as crianças, se reunia ao redor da mesa para comerem e celebrarem a Páscoa. A aliança do Novo Testamento é superior a do Antigo e não pode ficar aquém no tratamento dado as crianças. Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11; Tg 2.9). “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Seguindo o mesmo raciocínio de Paulo, podemos concluir também que não deve haver acepção entre adultos e crianças, pois todos devem ser um em Cristo. Jesus Cristo, querendo mostrar que veio dilatar antes que limitar a misericórdia do Pai, abraça ternamente as criancinhas a si trazidas, repreendendo os discípulos que tentavam impedi-las de acesso, afirmando que delas é o reino dos céus (Mt 19:13-15; Mc 10:13-16; Lc 18:15-17)... As crianças estão incluídas no pacto de Deus. A ação de recebê-las, o abraço, a imposição de mãos e a oração de Cristo, demonstram que as crianças não apenas são dele, como também são por ele santificadas. A expressão usada pelos evangelistas em Mt 19:14; Mc 10:13; Lc 18:15, designa literalmente criancinhas de peito. Não se fala aqui de crianças já crescidas, portanto já aptas a vir por si mesmas. Vir, nestes textos, fala de ter acesso. As crianças podem vir a Cristo, pois das tais é o reino dos céus.

Os metodistas livres vêem a ceia do Senhor não apenas como ordenança, mas também como sacramento. Existem dois sacramentos: a Ceia e o batismo. Tais ordenanças são verdadeiramente meios de graça, ou seja, ainda que sejam rituais simbólicos, representam uma realidade espiritual. No caso da Ceia, os elementos não sofrem nenhuma alteração mística – o pão continua sendo pão, e o vinho continua sendo vinho. Não obstante, o crente, mediante a ação do Espírito Santo, é verdadeiramente nutrido espiritualmente em sua participação. A Ceia é "um banquete espiritual, onde Cristo é o pão vivo que desceu do céu (Jo 6:51), pelo qual são os crentes alimentados para a verdadeira e bem-aventurada imortalidade. A Ceia é um dos sinais da inclusão do cristão na realidade salvífica estabelecida pelo pacto da graça. Por último, a Ceia é também um sinal de nossa participação no Corpo de Cristo que é a sua comunidade de fiéis. A reunião da Ceia é a reunião da família em torno da mesa, partindo o pão e compartilhando de união e intimidade. As pessoas reunidas para essa refeição são diferentes uma das outras. Expressam diversidade, mas estão ligadas na unidade produzida pelo Espírito mediante o sangue da aliança, derramado em favor delas.

Questão histórica

Na Igreja Antiga era normal a participação das crianças na Ceia do Senhor. O batismo de crianças e sua participação na Ceia eram usuais. Naquela época o Batismo era a única condição para participar da Ceia. A partir do século XI outras exigências foram solicitadas para a participação na Ceia. O IV Concílio de Latrão, em 1215, fixou a idade entre 07 e 10 anos para poder participar na Ceia. Nesta idade as crianças já poderiam ver a diferença da Ceia com a presença da salvação em Cristo e a simples refeição. Assim, na Igreja Ocidental se colocam limites para a participação das crianças na Ceia. Na Igreja Oriental, até hoje, todas as crianças batizadas são convidadas para a Ceia.

Os Sacramentos foram ordenados por Jesus Cristo. Eles são obras d’Ele e não desta ou daquela denominação religiosa. Faz parte de um Sacramento a Palavra de Deus e os elementos visíveis. Os benefícios dos Sacramentos vêm de Cristo. Neste, todos os dons de Deus nos são concedidos por graça: fé/justificação, perdão dos pecados, Espírito Santo/santificação, vida eterna, fortalecimento na fé e no amor. Toda essa “graça” experimentamos na comunhão do corpo de Cristo (igreja = comunhão dos santos).

Lutero entendeu o Batismo como presente de salvação. Lutero utilizou a imagem do testamento: Uma pessoa à beira da morte faz seu testamento e a partir da morte desta, que seria a morte de Cristo, este testamento passa a valer. A pessoa que recebe as promessas do testamento, mesmo sendo indigna, tem o direito ao que a ela é presenteado gratuitamente. O mais importante não é o que a pessoa faz ou deixa de fazer, mas o presente que recebe. O peso do testamento está na obra de Deus, e não na dignidade ou mérito do ser humano. Esta obra de Deus em nosso favor vale para sempre, não precisa ser repetida (caso de rebatismo). Quando não colocamos total confiança na graça de Deus. Lei é exigência. Lutero afirmou que ser cristão é saber diferenciar entre lei e Evangelho. A negação da Ceia do Senhor as crianças batizadas é desprezar a graça de Deus, que é dada a todas as pessoas, independente da idade e maturidade. Pois ela é graça, é presente, e cada pessoa batizada tem o direito de participar e viver deste presente na comunhão da família. Todos somos pecadores e necessitamos da mão estendida de Deus.

Pode acontecer de pais crentes não apresentarem seus filhos para batismo, mas estarem trazendo-os à frente para participação na Ceia do Senhor. Depois, em particular, o pastor deve conversar com os pais mostrando pelas Escrituras a íntima relação entre os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor, de modo que um está atrelado ao outro. Por que participar da Ceia e não também do batismo? O batismo é o sinal da salvação em Cristo, devendo, portanto, preceder a Ceia. O coerente é que aqueles que foram batizados participem da Ceia do Senhor.

Alguém poderia alegar que as crianças não são mencionadas na realização da primeira Ceia do Senhor. A isto respondemos que nem tão pouco as mulheres são mencionadas. Vamos examinar o seguinte texto: “Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados, assim na nuvem como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeram de um só manjar espiritual e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo.” (1 Co 10.1-4). Paulo estabelece este paralelo para que os cristãos da igreja de Corinto pudessem estar alertas para não incorrer no mesmo erro que levou a maioria do povo a perdição (v. 5-11). É interessante notar aqui algo relevante para o estudo que estamos fazendo sobre batismo infantil e participação das crianças na Ceia do Senhor, pois vemos que Paulo estabelece um paralelo entre os sinais da salvação do povo do Antigo Testamento com os sinais da salvação dos cristãos, o batismo e a Ceia do Senhor estão em foco. Há uma ênfase também na palavra todos. Todos, adultos e crianças foram batizados na nuvem e no mar e todos, incluindo as crianças, comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da rocha espiritual que é Cristo. O termo “todos” aparece também no verso 17 numa referência clara a Ceia do Senhor “pois todos participamos de um único pão”.

Uma objeção que é feita a participação das crianças na Ceia do Senhor é que Paulo exorta os cristãos a examinarem a si mesmos antes de participarem da mesa do Senhor para não correrem o risco de comerem indignamente, sem discernir o corpo do Senhor, o que traria condenação. Mas pode-se conjecturar que esta exortação de Paulo não se dirigia às crianças, mas aos cristãos adultos que estavam cometendo diversos abusos durante as celebrações dos cerimoniais da Ceia (1 Co 11).

O cristão é filho de Deus e não existe filiação parcial, pois a graça é total. Não há cristãos pela metade, mas completos, tornados justos pela obra de Jesus e incorporados na comunhão dos santos, da qual as crianças fazem parte, desfrutando de todos as bênçãos e privilégios do Evangelho.

Bispo Ildo Mello

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