Mostrando postagens com marcador Calvinismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Calvinismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Calvino, Reformador impopular (MC)

João Calvino, o teólogo que personifica a Reforma do cantão suíço de Genebra, nasceu no dia 10 de Julho de 1509, em Noyon, França. No próximo ano, por todo o mundo, Igrejas e organizações cristãs têm um vasto programa para assinalar os 500 anos do nascimento do Reformador, cujo pensamento teológico, eclesiológico e ético, é globalmente designado por “Calvinismo”. O Calvinismo teve, ainda em vida de Calvino, um sucesso enorme e passou rapidamente da Suíça para a França, Holanda e Escócia. O seu crescimento, nos séculos seguintes, só foi contrariado, dentro do Protestantismo, pela acção de João Wesley (1703-1791), fundador do Metodismo, e já próximo a nós pelo Pentecostalismo, formas de Protestantismo de orientação arminianista. Mas as Igrejas presbiterianas ou reformadas, que devem a sua organização à reflexão deste teólogo, continuam a considerar-se no essencial, calvinistas.

O sucesso do Calvinismo veio sempre acompanhado por muita crítica, feita não só ao pensamento do teólogo como ao seu carácter. No século passado, o ataque à figura de Calvino foi particularmente vivo num livro escrito pelo romancista austríaco Stéfan Zweig, com o título Castélio Contra Calvino (1930). Zweig era judeu e viveu, com razão, amargurado contra o fanatismo e intolerância do nazismo, que o perseguiu e obrigou a refugiar-se no Brasil, onde acabou por se suicidar com sua mulher. Na sua revolta, elegera Calvino como figura extrema de intolerância e fanatismo, o que se compreende, mas, mas neste tempo de comemoração do 500º aniversário do nascimento do Reformador impõe-se revisitar esta figura e reconhecer que há em Calvino aspectos dignos de admiração. O que é necessário é começar por olhar para Calvino no contexto do seu século, o século XVI, quando dominava na cultura ocidental um dualismo absoluto entre vida terrena e vida celeste e entre corpo e alma. O homem era então visto pela quase totalidade das pessoas como um ser que passava pela terra apenas acidentalmente, destinando-se ao Céu ou ao Inferno. A vida terrena era uma passagem de preparação e o corpo simples prisão da alma. Era, na verdade, o pensamento pagão grego que dominava o pensamento ocidental, mesmo que se apresentasse com linguagem cristã. Este dualismo opõe-se diametralmente ao pensamento dominante no ocidente desde o século XIX, em que o ser humano é visto como um ser apenas terrestre, simples “bicho da terra”, acabando tudo com a morte. Com aquela antropologia do século XVI, era natural que se aceitasse a tortura e a pena de morte como práticas correctas, já que com elas, acreditava-se, não se tocava no que era realmente importante na pessoa, a alma. Havia mesmo a possibilidade, pensava-se geralmente, de um homem que levou uma vida terrestre condenável, encontrar na morte pela fogueira a purificação dos seus pecados e alcançar assim a bem-aventurança eterna. Obviamente, o pensamento dominante dos nossos dias nada tem a ver com este dualismo e por isso os homens de hoje (excepto os crentes, claro) não podem compreender a suma importância que a religião tinha no século de Calvino. A religião hoje, para quem vê no homem um simples animal racional destinado à destruição final, é uma questão de gosto privado, no máximo tão respeitável como ser adepto do clube de futebol A ou B. Como o “homem moderno” diz que não há Deus, considera totalmente idiota os adeptos da religião A dividirem-se contra os adeptos da religião B, porque “gostos não se discutem”.

O pensamento cristão, que não concorda com o pensamento dominante do século XVI nem com o dominante neste século XXI, afirma que o homem é, de facto, corpo, alma e espírito, mas vê o homem como uma unidade inseparável, e espera a ressurreição do corpo e viver eternamente. Nesta perspectiva cristã, nem todas as doutrinas servem, nem são indiferentes as palavras que dissermos sobre Deus – mas a figura modelo é Jesus Cristo que não aprova a intolerância nem a violência, mas proclama bem-aventurados os que fazem a paz. Obviamente, um crente cristão está em desacordo com o pensamento comum do século XVI e com o pensamento comum deste século XXI.

Do seu tempo e da sua sociedade

Calvino é um homem do século XVI. Nos seus livros (principalmente na Instituição da Igreja Cristã, mas também no Verdadeiro Modo de Reformar a Igreja, nos catecismos, nos comentários da Bíblia, nos seus sermões), há fundamentalmente reflexos do ensino mais rico da Sagrada Escritura, mas temos de contar também com algumas manifestações do pensamento dominante do seu tempo. O infeliz apoio que Calvino deu à condenação à morte do médico e teólogo espanhol Miguel Servet, que rejeitava a doutrina da Trindade, é resultado dessa comunhão de Calvino com o pensamento do seu tempo. Tragédia que nos deve pôr de alerta em relação ao modo como nos deixamos ou não influenciar pelo pensamento do nosso tempo. Naturalmente, um cristão, incluindo o cristão teólogo, deve ser um homem aberto ao seu século, deve viver em comunhão com o seu tempo, mas sabendo que nem tudo o que é moderno merece o nosso apoio.

Mas há outra questão que é indispensável ter em conta quando estudamos a acção e o pensamento de Calvino. É o facto de ser em Genebra que o Reformador actuou. Genebra que, quando ele vai servi-la como pastor (1536-1538 e 1541 até à morte, em 1564), já está, em teoria pelo menos, totalmente convertida à Reforma. O Catolicismo estava completamente afastado e a cidade-estado afirmava-se uma sociedade cristã reformada. Calvino tem, pois, pela frente uma situação desafiadora que a Igreja em termos gerais não encontrava desde os tempos primitivos. Devemos lembrar que o Cristianismo primitivo emergiu com uma grande fragilidade, sendo extremamente minoritário dentro do Império Romano. Não havia, naturalmente, as mínimas condições de a Igreja do primeiro e segundo século estabelecer para a sociedade civil estruturas que dessem corpo aos ideais proclamados pelo Evangelho. Pelo contrário, o que aconteceu foi, progressivamente, a Igreja deixar-se influenciar pelo Estado (constantinização da Igreja), o que implicou a adopção de um governo hierárquico, e a separação rígida do clero e do laicado. Calvino é, entre os Reformadores, o único que encontrou, com textos bíblicos, uma estrutura eclesiástica alternativa, assegurando um papel de extrema importância ao presbítero e envolvendo pela primeira vez os leigos no governo eclesiástico. Ainda que o próprio Calvino não fosse de orientação democrática (não havia democracia nesses dias), ele é, pelo tipo de governo que quis para a Igreja, um dos pais da democracia moderna. Mas é preciso dizer: o teólogo não inventou nada: apenas procurou nas Escrituras o sistema que achava ser da vontade de Deus. Depois, com as mesmas Escrituras nas mãos, Calvino procurou as regras éticas que deviam orientar uma sociedade que se afirmava cristã. Os estudos bíblicos e teológicos que foram feitos nos séculos que nos separam de Calvino permitiram perceber que o seu esforço de criar uma espécie de teocracia cristã estava errado: o Evangelho não pretende dar receitas morais, mas pretende chamar os homens ao arrependimento e à conversão ao Reino de Deus Mateus 6:33. A teocracia de Israel, que o Antigo Testamento em muitos lugares defende, pertence a uma fase da revelação divina, como a Lei é o aio que nos leva a Cristo – mas com Jesus Cristo é inaugurado um tempo novo em que, até à Segunda Vinda, importa que se dê a César o que é de César e a Deus o que é de Deus Mateus 22:21. A Igreja deve ter uma voz profética e denunciar o mal, incluindo os erros do Estado, mas não pode ter a pretensão de querer dominar o poder civil.

Deve acrescentar-se, no entanto, que, se o desejo de Calvino de criar condições para que os valores cristãos determinassem a vida de Genebra, falhou em muitos aspectos, ele teve também muitos resultados positivos, pois escritores que viajaram para a Genebra dos tempos imediatos à acção de Calvino deixaram relatos de grande apreço pela vida cristã que ali se observava. Os frutos do ensino do Reformador perduraram pelos séculos seguintes e mesmo há poucos anos ainda Genebra era uma sociedade exemplar em civismo, com as suas Igrejas calvinistas dando testemunhos admiráveis e não foi por acaso que os dirigentes do movimento ecuménico escolheram, em 1948, esta cidade para nele instalarem a sede do Conselho Mundial de Igrejas, e os políticos escolheram-na para diversos departamentos da Organização das Nações Unidas (ONU), assim como é sede da Cruz Vermelha Internacional e de muitas outras organizações filantrópicas. Hoje, nestes primeiros anos do século XXI, é ainda um cantão pacífico – mas a perturbação do mundo actual também atinge a “República de Genebra” que se orgulha de ostentar um Muro da Reforma, com as estátuas de quatro grandes reformadores calvinistas: Guilherme Farel, Teodoro de Beza, João Knox e, naturalmente, João Calvino.

Vivendo nós numa época de grande confusão religiosa e ética, em que o dinheiro domina os espíritos até mesmo dentro de “Igrejas”, que exploram os povos, temos de reconhecer que Calvino é uma figura da história que merece a nossa admiração sob muitos aspectos. A interpretação que fez do Cristianismo é por vezes, sem dúvida nenhuma, demasiado austera, mas é deste teólogo que nos ficou este princípio fundamental: “Soli Deo Gloria”, (Só a Deus seja dada glória!)

Manuel Pedro Cardoso

Outubro de 2008

sábado, 11 de abril de 2009

COMPARAÇÃO ENTRE CALVINISMO E CATOLICISMO

Vou fazer a devida comparação entre catolicismo e calvinista, partindo do esquema da TULIP:

TULIP é um acróstico, atribuindo a cada letra um significado, na língua inglesa, como iremos ver: t = total depravity ou total inabilityunconditional election ("eleição incondicional"); l = limited atonement ("expiação limitada"); i = irresistible grace ("graça irresistível"); e p = perseverance of saints ("perseverança dos santos"). Cada um desses cinco artigos ou pontos é representado, assim, por uma letra do pentagrama calvinista (TULIP) e resumem o que há de fundamental em toda a visão calvinista da salvação e da predestinação. ("depravação total" ou "incapacidade total"); u =
O símbolo desse acróstico é uma flor, a tulipa (em inglês, tulip).

t - TOTAL DEPRAVITY - para os calvinistas, a queda do homem afetou a sua natureza no que era essencial, de sorte que a vontade e a inteligência do homem ficaram corrompidas (as potências da alma); no catolicismo, a queda do homem afetou a seus dons sobrenaturais e preternaturais, não poderia teria ter-lhe destruído a natureza, posto que o destruiria naquilo que o distingue como ser humano (ser intelectual, dotado de alma intelectual).

u - UNCONDITIONAL ELECTION - no catolicismo, a predestinação (da graça à glória) é incondicionada, e isso é "de fide"; a reprovação é incondicional e negativa; para os calvinistas, não há a preocupação em ensinar uma reprovação incondicional negativa, posto que geralmente não há a identificação do bem com o ser; nem de Deus como o Ser, na sua essência; logo, o mal assume conotação de "ser", conjuntamente com o bem (desprezo à metafísica, que é uma ciência, em decorrência da desconfiança do calvinista em relação à razão).

l - LIMITED ATONEMENT – para o calvinista, Cristo morreu somente pelos eleitos. Para o católico, Cristo não morreu somente pelos eleitos (isso é "de fide"). Explicação: os batizados recebem a graça da justificação em virtude dos méritos da Paixão de Cristo; nem todos os batizados podem ter certeza de que serão eleitos (a predestinação à graça não é à glória), portanto, Cristo morreu por todos os batizados e não somente pelos eleitos. A doutrina católica não exige como que "de fide" que Cristo tenha morrido por todos os homens, mas o ensino do "Catecismo Romano" é de que assim é quanto à virtude, mas não quanto à eficácia. Por isso, no Missal, se diz "pro multis".

i - IRRESISTIBLE GRACE - a graça eficaz é admitida pelo catolicismo, mas essa graça excita à cooperação do homem, sendo o livre arbítrio o veículo ou o meio no qual a graça age; no calvinismo, não há diferenças (cf. Confissão de Fé de Westminster, III,1), embora, para muitos, o livre arbítrio seja incapaz de cooperar, por estar inclinado para o mal (Lutero). A distinção entre a graça eficaz e graça suficiente encontra analogia na distinção calvinista entre graça especial e graça comum.

p - PERSEVERANCE OF SAINTS - no catolicismo, o dom da perseverança (em especial, a perseverança final) é sempre um dom gratuito de Deus aos eleitos, a diferença é que os calvinistas acreditam que esse dom seja certamente recebido por todos os justificados.

Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).MACHADO, Rui. Apostolado Veritatis Splendor: COMPARAÇÃO ENTRE CALVINISMO E CATOLICISMO. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4246. Desde 06/06/2007.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Novo Calvinismo

Se você quer realmente seguir o desenvolvimento do cristianismo conservador, rastreie as suas músicas de sucesso. No início do século xx, você ouviria “Rude Cruz”, uma celebração da expiação. Nos anos 1980, você teria compartilhado a intimidade do tipo “Jesus é meu amigo”, expressada na canção “Brilha, Jesus”. Hoje, as músicas de sucesso retratam cada vez mais um Deus que é muito grande, enquanto nós… bem, ouça a banda de David Crowder: “Estou cheio de terra/ Tu és o tesouro do céu/ Estou sujo de lama/ Inclinado à depravação”.


O calvinismo está de volta, e não apenas no âmbito da música. A resposta de João Calvino, no século xvi, aos excessos do catolicismo na forma de “compre o seu livramento do purgatório” é a mais recente história de sucesso do evangelicalismo [americano], uma história completa: com uma Deidade totalmente soberana que administra as coisas mínimas, uma humanidade pecaminosa e incapaz e, a combinação da conseqüência lógica, a predestinação: a crença de que, antes de o tempo surgir, Deus resolveu a quem salvaria (ou não), sem influenciar-se por qualquer ação ou decisão humana subseqüente.

O calvinismo, primo de outro pilar da Reforma, o luteranismo, é bem menos rígido do que os seus críticos afirmam. O calvinismo oferece uma Deidade firme que orquestra absolutamente tudo, incluindo a enfermidade (ou o arresto da casa!), por meio de uma lógica que talvez não entendamos, mas não temos de criticar depois que vemos os resultados. Nossa satisfação — e nosso propósito — se realiza apenas ao glorificá-Lo. No século xviii, o pregador puritano Jonathan Edwards revestiu o calvinismo de um misticismo quase extasiante. Mas logo o calvinismo foi vencido nos Estados Unidos por movimentos como o metodismo, que eram mais impressionados com a vontade humana. Grupos liberais descendentes dos calvinistas, como a Igreja Presbiteriana (EUA) [PCUSA], descobriram outra ênfase, enquanto o evangelicalismo perdia o interesse por uma doutrina consistente (havia o triunfo daquele Jesus amável e impreciso) e parecia relegar a pregação reformada fiel (a palavra reformado é um sinônimo de calvinista) a algumas poucas igrejas persistentes do sul [dos EUA].

Isso não acontece mais. Os ministros e autores neo-calvinistas não agem numa escala como Rick Warren. Contudo, ouça Ted Olsen, editor-chefe da revista Cristianity Today: “Todos sabem onde estão a energia e a paixão no mundo evangélico” — com o neo-calvinista pioneiro John Piper, de Minneapolis, com Mark Discroll, o brigão de Seattle, e Albert Mohler, presidente do Southern [Theological Baptist] Seminary, da grande Convenção Batista do Sul [dos EUA]. A Bíblia de Estudo ESV, com sabor calvinista, esgotou a sua primeira tiragem; blogs reformados como Between Two Worlds estão entre os links mais populares do ciberespaço cristão.

À semelhança dos calvinistas, os evangélicos mais moderados estão explorando curas para o desvio doutrinário do movimento, mas não podem oferecer a mesma segurança coletiva. “Muitos jovens cresceram em cultura de destruição, divórcio, drogas e tentação sexual”, disse Collin Hansen, autor de Young, Restless, Reformed: A Journalist’s Journey with the New Calvinists. “Eles têm muitos amigos; o que precisam é de um Deus.” Mohler disse: “No momento em que alguém começa a definir o ser ou os atos de Deus biblicamente, essa pessoa é levada a conclusões que são tradicionalmente classificadas como calvinistas”. De fato, essa presunção de inevitabilidade tem atraído acusações de arrogância e divisionismo desde a época de Calvino. Na verdade, alguns dos entusiastas de hoje sugerem que os não-calvinistas podem não ser cristãos. Pequenas disputas entre os batistas do sul [dos EUA] (que têm um grupamento concorrente de não-calvinistas) e trocas de ameaças on-line são um mau presságio.

Em julho próximo, se dará o 500º aniversário de nascimento de Calvino. Será interessante observar se o último legado de Calvino será a difamação protestante clássica ou se, durante estes tempos difíceis, mais cristãos que buscam segurança sujeitarão a sua vontade ao Deus severamente exigente dos primórdios de seu país.

Traduzido por Franklin Ferreira

sábado, 10 de janeiro de 2009


A Bíblia não diz que Deus não quer que Ninguém Pereça?
por
R. C. Sproul

O apóstolo Pedro declara com clareza que Deus não quer que ninguém pereça.
"Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para conosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento" (2Pedro 3.9).

Como podemos encaixar este versículo na predestinação? Se não é a vontade de Deus eleger todos para a salvação, como pode então a Bíblia dizer que Deus não quer que ninguém pereça?
Em primeiro lugar precisamos entender que a Bíblia fala da vontade de Deus em mais de uma maneira. Por exemplo, a Bíblia fala do que nós chamamos de vontade soberana eficaz. A vontade soberana de Deus é aquela vontade pela qual Deus faz com que as coisas aconteçam com absoluta certeza. Nada pode resistir à vontade de Deus neste sentido. Por sua soberana vontade, Ele criou o mundo. A luz não poderia recusar-se a brilhar.
A segunda maneira na qual a Bíblia fala da vontade de Deus é com respeito ao que chamamos de vontade preceptiva. A vontade preceptiva de Deus refere-se a seus comandos, suas leis. E a vontade de Deus que façamos o que Ele ordena. Somos capazes de desobedecer a sua vontade. Na realidade, quebramos seus mandamentos. Não podemos fazer isso com impunidade. Fazemos isso sem sua permissão ou sanção. Ainda assim o fazemos. Nós pecamos.
Um terceiro modo que a Bíblia fala da vontade de Deus faz referência à disposição de Deus, ao que agrada a Ele. Deus não tem prazer na morte do ímpio. Existe um sentido no qual a punição do ímpio não traz alegria a Deus. Ele escolhe fazê-lo porque é bom punir o mal. Ele se alegra na justiça de seu julgamento, mas é "triste" que tal julgamento justo precise ser realizado. E algo como um juiz sentar-se na corte e sentenciar seu próprio filho à prisão.

Vamos aplicar estas três definições possíveis à passagem de 2 Pedro.

Se tomarmos a declaração compreensiva "Deus não quer que ninguém pereça", e aplicarmos a ela a vontade soberana eficaz, a conclusão é óbvia. Ninguém perecerá. Se Deus soberanamente decreta que ninguém deve perecer, e Deus é Deus, então certamente ninguém jamais perecerá. Este, então, seria um texto de prova não para o arminianismo, mas para o universalismo. O texto, então, provaria demais para os arminianos.
Suponha que aplicamos a definição da vontade preceptiva de Deus a esta passagem. Então a passagem significaria que Deus não permite que ninguém pereça. Isto é, Ele proíbe o perecimento das pessoas. E contra sua lei. Se as pessoas fossem adiante e perecessem, Deus teria de puni-las por perecerem. Sua punição por perecerem seria mais perecimento. Mas como alguém se envolve em mais perecimento do que o perecimento? Esta definição não funcionará nesta passagem. Não faz sentido.
A terceira alternativa é que Deus não tem prazer no perecimento das pessoas. Isto se enquadra no que a Bíblia diz, em outros lugares, sobre a disposição de Deus em relação aos perdidos. Esta definição poderia servir nesta passagem. Pedro poderia simplesmente estar dizendo aqui que Deus não tem prazer no perecimento de ninguém.
Embora a terceira definição seja possível e atraente para ser usada na solução desta passagem, com a qual a Bíblia ensina sobre predestinação, há ainda um outro fator a ser considerado. O texto diz mais do que simplesmente que Deus não quer que ninguém pereça. A cláusula inteira é importante: "pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento."
Qual é o antecedente de nenhum? É claramente "nós" . Será que "nós" se refere a todos nós humanos? Ou se refere a nós cristãos, o povo de Deus? Pedro gosta de falar dos eleitos como um grupo especial de pessoas. Eu acho que o que ele está dizendo aqui é que Deus não quer que nenhum de nós (os eleitos) pereça. Se esse é o seu significado, então o texto exigiria a primeira definição e seria mais uma forte passagem a favor da predestinação.
De duas maneiras diferentes o texto poderia ser harmonizado com a predestinação. De maneira nenhuma sustentaria o arminianismo. Seu único outro significado possível seria o universalismo, que então entraria em conflito com tudo o mais que a Bíblia diz contra o universalismo.
Fonte: Eleitos de Deus – Editora Cultura Cristã – Pág 144-146 --

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Explicação para os Aparentes Casos de Perda de Salvação
por
Wayne Grudem

Será sempre fácil distinguir os membros da igreja que têm autêntica fé salvífica daqueles que tem apenas um convencimento intelectual da verdade do Evangelho, mas não a autentica fé no coração? Não, nem sempre é fácil, e a Bíblia afirma em várias passagens que descrentes em aparente comunhão com a igreja podem dar alguns sinais ou indicações exteriores que os façam parecer crentes verdadeiros. Por exemplo, Judas, que traiu Cristo, deve ter agido quase exatamente como os outros discípulos durante os três anos em que esteve com Jesus. Tão convincente era a sua conformidade à conduta dos outros discípulos, que, ao final dos três anos de ministério de Jesus, quando ele declarou que um dos seus discípulos o trairia, nem todos suspeitaram de Judas, mas "começaram um por um a perguntar-lhe: Porventura, sou eu, Senhor?" (Mt 26.22; cf. Mc 14.19; Lc 22.23; Jo 13.22). Porém, Jesus sabia que não havia fé genuína no coração de Judas, pois disse a certa altura: "Não vos escolhi eu em número de doze? Contudo, um de vós é diabo" (Jô 6.70). João mais tarde escreveu no seu evangelho que "Jesus sabia, desde o principio, quais eram os que não criam e quem o havia de trair" (Jo 6.64). Mas os discípulos mesmos não sabiam.
Paulo fala dos "falsos irmãos que se entremeteram" (Gl 2.4), e afirma que nas suas viagens esteve "em perigos entre falsos irmãos" (2 Co 11.26). Afirma também que os servos de Satanás se transformam "em ministros de justiça" (2 Co 11.15). Isso não significa que todos os descrentes da igreja que dão alguns sinais de verdadeira conversão sejam servos de Satanás agindo secretamente para minar a obra da igreja, pois alguns podem estar ainda ponderando as declarações do Evangelho e avançando rumo à verdadeira fé, outros podem ter ouvido uma explicação incorreta da mensagem evangélica, e outros podem não ter ainda alcançado a verdadeira convicção do Espírito Santo. Mas as declarações de Paulo significam que alguns descrentes dentro da igreja são falsos irmãos e irmãs enviados para perturbar a comunhão, enquanto outros são simplesmente descrentes que acabarão alcançando a genuína fé salvífica. Nos dois casos, porém, eles podem dar diversos sinais exteriores que os façam parecer crentes autênticos.
Podemos ver isso também na declaração de Jesus sobre o que acontecerá no juízo final:
"Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de me dizer: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüidade." (Mateus 7.21-23)
Embora essas pessoas profetizassem, expulsassem demônios e fizessem "muitos milagres" em Nome de Jesus, a capacidade de fazer tais obras não garantia que eram cristãs. Diz Jesus: "Nunca vos conheci". Não diz: "Eu vos conheci um dia, mas já não vos conheço" nem "Eu vos conheci um dia, mas vos afastastes de mim", e sim: "Nunca vos conheci". Nunca foram crentes de verdade.
Ensinamento semelhante se encontra na parábola do semeador em Marcos 4. Diz Jesus: "Outra caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porem, o Sol, a queimou; e, porque não tinha raiz, secou-se" (Mc 4.5-6). Jesus explica que a semente plantada em solo rochoso representa aqueles que "ouvindo a palavra, logo a recebem com alegria. Mas eles não têm raiz em si mesmos, sendo, antes, de pouca duração; em lhes chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam" (Mc 4.16-17). O fato de eles não terem "raiz em si mesmos" indica que não avia fonte de vida dentro dessas plantas; do mesmo modo, as pessoas representadas por tais plantas não têm vida genuína em si. Exibem uma aparência de conversão e aparentemente se tornam cristas, pois aceitaram a palavra "com alegria", mas, quando vem a dificuldade, elas não são mais encontradas em lugar nenhum – a sua conversão aparente não foi genuína fé salvífica no seu coração.
A importância de persistir na fé é também confirmada na parábola de Jesus como videira, na qual os cristãos são retratados como ramos (Jo 15.1-7). Diz Jesus:
"Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam." (João 15.1,2,6)
Os arminianos alegam que os ramos que não dão fruto são ainda assim ramos genuínos da videira – Jesus fala de "todo ramo que, estando em mim, não der fruto" (v.2). Portanto, os ramos que são apanhados, lançados no fogo e queimados devem representar crentes autênticos que foram um dia parte da videira, mas caíram e ficaram sujeitos à condenação eterna. Mas essa questão não é uma implicação necessária do ensinamento de Jesus sobre essa questão. O símile da videira usado nessa parábola é limitado quanto ao volume de detalhes que pode dar. Na verdade, se Jesus quisesse ensinar que associados a ele havia crentes verdadeiros e falsos, e se quisesse usar a analogia da videira e seus ramos, então o único modo de se referir às pessoas que não tinham vida genuína em si seria falar de ramos que não dão fruto (lembrando a analogia das sementes que caíram no solo rochoso: "eles não têm raiz em si mesmos" [Mc 4.17]). Aqui em João 15, os ramos que não dão fruto, embora estejam de certo modo ligados a Jesus e exibam uma aparência de ramos legítimos, assim mesmo dão indicação da sua verdadeira condição pelo fato de não dar fruto. Isso é igualmente indicado pelo fato de a pessoa "não permanecer" em Cristo (Jo 15.6) e ser lançada fora para secar como ramo arrancado da videira. Se tentamos esticar a analogia um pouco mais, dizendo – por exemplo – que todos os ramos de uma videira estão de fato vivos, senão nem estaria ali, então o que fazemos é estender a metáfora além daquilo que ela é capaz de ensinar – e nesse caso nada haveria na analogia que pudesse representar os falsos crentes. O objetivo da metáfora é simplesmente dizer que aqueles que dão fruto, dão, portanto, provas de que permanecem em Cristo; aqueles que não dão fruto, não permanecem nele.
Finalmente, há duas passagens de Hebreus que também afirmam que aqueles que acabam se afastando podem dar muitos sinais exteriores de conversão e parecer cristãos em muitos aspectos. A primeira delas, Hebreus 6.4-6, foi muitas vezes usada pelos arminianos como prova de que os crentes podem perder a salvação. Mas num exame mais detido essa interpretação não se revela convincente. Escreve o autor:
"É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento, visto que, de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus, e expondo-o à ignomínia." (Hebreus 6.4-6)
O autor continua com um exemplo extraído da agricultura:
"Porque a terra que absorve a chuva que freqüentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus; mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada." (Hebreus 6.7-8)
Nessa metáfora agrícola, os condenados no juízo final são comparados à terra que não produz vegetação ou fruto útil, mas só espinhos e abrolhos. Quando lembramos outras metáforas bíblicas em que o bom fruto é sinal de verdadeira vida espiritual e a ausência de frutos denuncia os falsos crentes (por exemplo: Mt 3.9-10; 7.15-20; 12.33-35), já temos uma indicação de que o autor está falando de pessoas cuja prova mais confiável da sua condição espiritual (o fruto que produzem) é negativa, sugerindo que o autor fala de pessoas que não são verdadeiramente cristãs.
Alguns já objetaram que a longa descrição de coisas que aconteceram a essas pessoas que se afastaram significa que elas devem ter nascido de novo. Mas essa não é uma objeção convincente quando se examinam os termos usados. O autor diz que "uma vez foram iluminados" (Hb 6.4). Mas essa iluminação significa simplesmente que eles compreenderam as verdades acerca do Evangelho, não que tenham respondido a essas verdades com genuína fé salvífica.
Do mesmo modo, a expressão uma vez, usada para falar daqueles que "uma vez foram iluminados", traduz o termo grego hapax, que é usado, por exemplo, em Filipenses 4.6 (quando os filipenses enviam doações a Paulo "não somente uma vez, mas duas") e em Hebreus 9.7 (que fala da entrada no Santo dos Santos "uma vez por ano". Portanto, essa palavra não significa que algo acontece "uma vez" somente e não pode ser repetida, mas simplesmente que aconteceu uma vez, sem especificar se será ou não repetida.
O texto diz ainda que essas pessoas "provaram o dom celestial" e que "provaram a boa palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro" (Hb 6.4-5). Inerente à idéia de provar é o fato de ser esse provar algo temporário e de a pessoa poder ou não decidir aceitar a coisa provada. Por exemplo, a mesma palavra grega (geuomai) é usada em Mateus 27.34 para dizer que aqueles que crucificaram Jesus "deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber". A palavra também é usada em sentido figurado com o significado de "vir a conhecer algo". Se interpretamos a palavra nesse sentido figurado, como deve ser entendida aqui, pois a passagem não fala de provar comida de verdade, então isso significa que essas pessoas compreenderam o dom celestial (o que provavelmente significa que experimentaram parte do poder do Espírito Santo em ação) e conheceram parte da Palavra de Deus e parte dos poderes do mundo vindouro. Não significa necessariamente que tiveram (ou não) genuína fé salvífica, mas pode significar simplesmente que a compreenderam e tiveram alguma evidência do seu poder espiritual.
O texto também diz que essas pessoas "se tornaram participantes do Espírito Santo" (Hb 6.4). A questão é o significado exato da a palavra metochos, que é aqui traduzida como "participante" . Nem todos os leitores das traduções da Bíblia sabem que esse termo tem uma ampla gama de significados e pode sugerir participação e apego bem íntimos, ou então meramente uma associação mais tênue com a outra pessoa ou pessoas citadas. Por exemplo, o contexto mostra que Hebreus 3.14 torna-se participante de Cristo significa ter uma participação bem íntima com ele numa relação salvífica. Por outro lado, a palavra metochos pode também ser usada num sentido muito mais livre, referindo-se meramente a associados ou companheiros. Lemos que quando os discípulos pegaram grandes quantidades de peixes, a ponto de as redes estarem já se rompendo, "fizerem sinais aos companheiros do outro barco, para que fossem ajudá-los" (Lc 5.7). Aqui, o termo define os que eram meramente parceiros ou companheiros de Pedro e dos outros discípulos na pesca. Efésios 5.7 usa uma palavra muito próxima (symmetochos, composta de metochos e da preposição syn ["com]) quando Paulo exorta os cristãos a ficar atentos aos atos pecaminosos dos descrentes: "... Não sejais participantes com eles" (Ef 5.7). Ele não está preocupado com a possibilidade de a própria natureza deles se transformar pelo contato com os descrentes, mas simplesmente com a hipótese de o testemunho deles ficar comprometido, de a própria vida deles vir a ser influenciada pelos descrentes.
Por analogia, Hebreus 6.4-6 fala das pessoas que "se associaram ao" Espírito Santo e que, portanto, tiveram a vida influenciada por ele, mas isso não implica que eles vivenciaram a obra redentora do Espírito Santo, nem que foram regenerados. Aplicando analogia semelhante ao exemplo dos companheiros de pesca de Lucas 5.7, Pedro e os discípulos poderiam estar associados a eles e até ser influenciados por eles, sem sofrer uma completa mudança de vida por conta dessa associação. A própria palavra metochos possibilita uma gama de influencia que vai da razoavelmente fraca à razoavelmente forte, pois significa somente "aquele que participa de, partilha de ou acompanha alguém numa atividade". Foi aparentemente isso que aconteceu a essas pessoas mencionadas em Hebreus 6, que participaram da igreja e portanto tiveram contato com a obra do Espírito Santo, sendo sem dúvida nenhuma influenciados por ele de algum modo.
Por outro lado, diz o texto que é impossível renovar "para arrependimento" as pessoas que experimentaram essas coisas e depois cometeram apostasia. Alguns já argumentaram que se esse é um arrependimento ao qual elas precisam ser renovadas, então deve ser um arrependimento autêntico. Mas isso não é necessariamente verdadeiro. Primeiro, é preciso que esse "arrependimento" (gr. metanoia) não implica necessariamente arrependimento íntimo do coração para a salvação. Por exemplo, Hebreus 12.17 usa essa palavra para falar da mudança de idéia que fez Esaú buscar desfazer a venda do seu direito de primogenitura e refere-se a ela com o termo "arrependimento" (metanoia). Esse não seria um arrependimento para salvação, mas simplesmente uma mudança de idéia e o cancelamento da venda do direito de primogenitura. (Repare também o exemplo do arrependimento de Judas, em Mateus 27.3 – conquanto com uma palavra grega distinta.)
O verbo cognato "arrepender-se" (gr. metanoeó) é às vezes usado para indicar não arrependimento salvífico, mas meramente pesar por ofensas individuais, em Lucas 17.3-4: "Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe". Concluímos que "arrependimento" significa simplesmente pesar por atos realizados ou pecados cometidos. Nem sempre será possível dizer se é ou não genuíno arrependimento salvífico, "arrependimento para salvação". O autor de Hebreus não se preocupa em especificar se se trata ou não de arrependimento genuíno. Diz simplesmente que se alguém sente pesar pelo pecado, compreende o Evangelho e experimenta as várias bênçãos da obra do Espírito Santo (se dúvida em comunhão com a igreja), mas depois se afasta, não será possível restaurar tal pessoa novamente a uma atitude de pesar pelo pecado. Mas isso não implica que o arrependimento foi genuíno arrependimento salvífico.
A esta altura podemos perguntar que tipo de pessoa se define com todos esses termos. São sem dúvida pessoas que estiveram intimamente ligadas à comunhão da igreja. Sentiram algum pesar pelo pecado (arrependimento) . Compreenderam claramente o Evangelho (foram iluminadas). Apreciaram os atrativos da vida cristã e a mudança que acontece na vida das pessoas quando se tornam cristãs, e provavelmente foram atendidas nas suas orações e sentiram o poder do Espírito Santo em ação, talvez até usando alguns dons espirituais, como os descrentes de Mateus 7.22 ("uniram-se" à obra do Espírito Santo, ou se tornaram "participantes" do Espírito Santo e provaram o dom celestial e os poderes do mundo vindouro). Ouviram a verdadeira pregação da Palavra e apreciaram muitos dos seus ensinamentos (provaram a bondade da Palavra de Deus).
Mas, depois, apesar de tudo isso, se "caíram [...] crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia" (Hb 6.6), então rejeitaram deliberadamente todas essas bênçãos e se voltaram decididamente contra elas. É possível que todos conheçamos (às vezes pela sua própria confissão) pessoas que estão há muito tempo na comunhão da igreja sem ser cristãs nascidas de novo. Há muito tempo ponderam o Evangelho, mas continuam a resistir ao chamado do Espírito Santo, talvez por causa da relutância em entregar a sua soberania a Jesus, preferindo apegar-se a si mesmas.
Ora, o autor nos diz que se essas pessoas deliberadamente rejeitam todas essas bênçãos temporárias, então é impossível renová-las para algum tipo de arrependimento ou pesar pelo pecado. O seu coração estará endurecido, a sua consciência, insensível. Que mais se poderia fazer para trazê-las à salvação? Se lhes dissermos que a Bíblia é a verdade, elas dirão que já a conhecem, mas que resolveram rejeitá-la. Se lhes dissermos que Deus atende a oração e transforma a vida do crente, elas responderão que também já sabem disso, mas que não querem nada disso. Se lhes dissermos que o Espírito Santo tem poder para agir nas pessoas e que o dom da vida eterna é indescritivelmente bom, elas dirão que compreendem, mas não querem nada disso. A sua constante familiaridade com as coisas de Deus e a forte influencia do Espírito Santo só serviu para endurecê-las contra a conversão.
Ora, o autor de Hebreus sabe que na comunidade à qual ele escreve há alguns em perigo de cair dessa maneira (ver Hb 2.3; 3.8,12,14015; 4.1,7,11; 10.26,29,35- 36,38-39; 12.3,15-17). Ele quer alertá-los de que, embora tenham participado da comunhão da igreja e experimentado várias bênçãos divinas, ainda assim, se caírem depois de tudo isso não haverá salvação para eles. Isso não implica que ele pense que os verdadeiros cristãos possam se perder – Hebreus 3.14 implica bem o contrário. Mas ele quer que essas pessoas alcancem a certeza da salvação mediante a persistência na fé, e, portanto, sugere que, se vierem a cair, isso mostraria que jamais foram pessoas de Cristo (ver Hb 3.6: "...mas Cristo é fiel como filho sobre a casa de Deus; e esta casa somos nós, se nos apegarmos firmemente à confiança e à esperança da qual nos gloriamos). Portanto o autor quer fazer um grave alerta àqueles em perigo de cair da fé cristã. Ele quer usar a linguagem mais forte possível para dizer: "Vejam aqui até onde a pessoa pode chegar na experiência das bênçãos temporárias, sem no entanto realmente estar salvas". Ele os exorta a vigiar, pois não basta depender de bênçãos e experiências temporárias. Para isso, ele fala não de uma verdadeira mudança no coração ou de algum bom fruto, mas simplesmente das bênçãos e experiências temporárias que essas pessoas tiveram e que lhes deram uma compreensão parcial do Cristianismo.
Por essa razão, ele imediatamente passa da descrição desses que cometem apostasia a outra analogia que mostra que tais pessoas que se afastam jamais deram fruto autêntico. Como já explicamos acima, os versículos 7-8 falam dessas pessoas usando a metáfora dos "espinhos e abrolhos", tipo de frutos que nascem no solo que não tem em si vida prestável, ainda que receba repetidas bênçãos de Deus (nos termos da analogia, ainda que a chuva freqüentemente o regue). Convém notar aqui que as pessoas que cometem apostasia não são comparadas a um campo que um dia deu bom fruto e agora já não dá, mas sim a uma terra que jamais deu bom fruto, porém apenas espinhos e abrolhos. A terra pode parecer boa antes do surgimento dos brotos, mas o fruto dá a prova incontestável de que a terra é ruim.
Forte apoio a essa interpretação de Hebreus 6.4-8 se encontra no versículo imediatamente seguinte. Embora o autor venha falando com muita dureza sobre a possibilidade de apostasia, ele agora volta a falar da situação da grande maioria dos leitores, que ele julga serem cristãos de verdade. Diz: "Quanto a vós outros, todavia, ó amados, estamos persuadidos das coisas que são melhores e pertencentes à salvação, ainda que falamos desta maneira" (Hb 6.9). Mas a questão é: "coisas que são melhores" que o quê? O plural "coisas que são melhores" forma um contraste apropriado com "boas coisas" mencionadas nos versículos 4-6: o autor está convencido de que a maioria dos seus leitores experimentou coisas melhores que as meras influências parciais e temporárias do Espírito Santo e da igreja, mencionadas nos versículos 4-6.
De fato, o autor fala dessas coisas dizendo (literalmente) que se trata de "coisas que são melhores e pertencentes à salvação" (gr. kai echomena sótérias). Essas não são somente as bênçãos temporárias mencionadas nos versículos 4-6, mas coisas melhores, coisas que não têm somente influência temporária, mas que são também "pertencentes à salvação". Assim, a palavra grega kai ("também") mostra que a salvação é algo que não fazia parte das coisas mencionadas nos versículos 4-6 acima. Portanto, a palavra kai, que não é traduzida explicitamente nas versões RSV e NVI (mas a NASB chega perto), proporciona uma chave vital à compreensão da passagem. Se o autor quisesse dizer que as pessoas mencionadas nos versículos 4-6 estavam realmente salvas, então seria muito difícil compreender por que ele diria no versículo 9 que estava persuadido de coisas que são melhores para elas, coisas pertencentes à salvação, ou que carregam em si a salvação além das coisas mencionadas acima. Ele assim mostra que, se quiser, pode usar uma curta expressão para dizer que as pessoas "têm salvação" (ele não precisa enfileirar muitas expressões) e mostra, além do mais, que as pessoas de quem fala nos versículos 4-6 não estão salvas.
O que são exatamente essas "coisas que são melhores"? Além da salvação mencionada no versículo 9, são coisas que dão real prova de salvação – fruto genuíno (v. 10), plena certeza de esperança (v. 11) e fé salvífica, do tipo exibido por aqueles que herdam as promessas (v. 12). Dessa forma ele tranqüiliza os verdadeiros crentes – aqueles que dão fruto e demonstram amor pelos outros cristãos, que exibem esperança e fé genuína que perdura até o tempo presente, e que não estão prestes a se perder. Ele quer tranqüilizar esses leitores (que certamente são a maioria), ao mesmo tempo lançando um forte alerta aos que dentre eles possam estar em perigo de perdição.
Ensinamento semelhante se encontra em Hebreus 10.26-31. Ali diz o autor: "Se vivermos deliberadamente em pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados" (v. 26). A pessoa que rejeita a salvação de Cristo e que "profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado" (v. 29) merece castigo eterno. Isso, novamente, é um grave alerta contra a apostasia, mas não deve ser tomado como prova de que alguém que verdadeiramente nasceu de novo possa perder a salvação. Quando o autor fala sobre o sangue da aliança "com o qual foi santificado", a palavra santificado é usada simplesmente para denotar a santificação exterior, como a dos antigos israelitas, por uma ligação exterior com o povo de Deus. A passagem não fala de alguém genuinamente salvo, mas de alguém que recebeu alguma influencia moral benéfica mediante o contato com a igreja.
Outra passagem, esta dos escritos de João, é usada para sustentar a possibilidade da perda da salvação. Em Apocalipse 3.5, diz Jesus: "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida". Alguns sustentam que, dizendo isso, Jesus sugere que é possível que ele venha a apagar os nomes de algumas pessoas do Livro da Vida, pessoas que já tinham seus nomes escritos ali e que portanto já estavam salvas. Mas o fato de Jesus afirmar enfaticamente que não fará algo não pode ser usado para pregar que fará a mesma coisa nos outros casos! O mesmo tipo de construção grega é usada para exprimir uma negação enfática em João 10.28, onde Jesus diz: "Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão". Isso não significa que algumas das ovelhas de Jesus não ouvem a sua voz nem o seguem, e por isso perecerão; afirma simplesmente que as suas ovelhas com certeza não perecerão. Do mesmo modo, quando Deus diz – "De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei" (Hb 13.5) – não sugere que deixará ou abandonará outras pessoas; apenas declara enfaticamente que não deixará nem abandonará o seu povo. Ou, numa analogia ainda mais próxima, de Mateus 12.32, Jesus diz: "Se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir". Isso não significa que alguns pecados serão perdoados no porvir (como alegam os católicos romanos para sustentar a doutrina do purgatório) – isso não passa de um erro de raciocínio: dizer que algo não irá acontecer no porvir não implica que pode acontecer no porvir! Do mesmo modo, Apocalipse 3.5 é apenas uma firme garantia de que aqueles que estiverem trajando vestes brancas e que permanecerem fieis a Cristo não terão os seus nomes apagados do Livro da Vida.
Finalmente, certa passagem do Antigo Testamento é muitas vezes usada para argumentar que as pessoas podem perder a sua salvação: a história do Espírito Santo que se aparta do rei Saul. Mas Saul não deve ser tido como exemplo de ninguém que perdeu a salvação, pois o "Espírito do Senhor" se retirou de Saul (1 Sm 16.14) imediatamente depois de Samuel ter ungido Davi rei, ocasião em que o "Espírito do Senhor se apossou de Davi" (1 Sm 16.13). na verdade, a descida do Espírito do Senhor até Davi é relatada no versículo imediatamente anterior àquele em que se narra que o Espírito saiu de Saul. Esse vínculo estreito significa que a Bíblia não fala aqui de perda total da obra do Espírito Santo na vida de Saul, mas simplesmente do afastamento do Espírito Santo como meio de consagrar Saul como rei. Porém isso não significa que Saul foi condenado por toda a eternidade. É simplesmente muito difícil dizer com base nas páginas do Antigo Testamento se Saul, ao longo de sua vida, foi (a) um homem não regenerado que tinha liderança e foi usado por Deus como demonstração do fato de que alguém digno de ser rei aos olhos do mundo não era só por isso apto para ser rei do povo do Senhor, ou (b) um homem regenerado, mas falto de entendimento, levando uma vida que cada vez mais se afastava do Senhor.
[Título original: "Aqueles Que Acabam Se Afastando Podem Dar Muitos Sinais Exteriores de Conversão"]
Fonte: Wayne Grudem. Teologia Sistemática. 1ª Edição. São Paulo, Edições Vida Nova, 1999. pp. 664-671.
80 Razões Pelas Quais o Crente Não Pode Perder a Salvação
por
Autor Desconhecido

01. Gênesis 7:16 - Sendo a arca um tipo de Cristo (IPe.3:20,21; Rm.3:6:4), o crente está seguro nele (Cl.3:3; Ap.3:7).
02. Efésios 4:30 - O crente está selado no Espirito Santo (Ef.1:13; IITm.2:19), e este selo é inviolável e irrevogável (Es.8:8; Dn.6:12).
03. II Coríntios 1:22 - O crente tem o penhor do Espirito Santo como garantia segura e inabalável (IICo.5:5).
04. Gálatas 3:15 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão (Gl.3:29), uma aliança irrevogável.
05. I Coríntios 11:25 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão, uma aliança incondicional, selada com sangue (Jr.34:18, 19; Gn.15:12-21) , e não com sapato (Rt.4:7,8) ou com sal (Nm.18:19; Lv.2:13).
06. Gênesis 15:12 - Deus fez com o crente, na pessoa de Abraão, uma aliança unilateral (o rompimento da aliança só seria possível se Deus morresse).
07. Jeremias 31:31-33 - Mediante a nova aliança (com sangue), o temor do Senhor é insuflado no coração do crente (Jr.32:39,40) para que não se aparte de Deus (Hb.3:12;8:8- 13; Ez.36:26,27) .
08. Salmos 12:7 - O crente é guardado por Deus, do mal que há no mundo.
09. Salmos 17:8 - O crente é guardado por Deus como a menina dos Seus olhos.
10. Salmos 25:20 - A alma do crente é guardado por Deus (Sl.97:10).
11. Salmos 37:28 - O crente é preservado para sempre.
12. Salmos 12l:5-8 - O Senhor guarda o crente; guarda a sua alma de todo o mal; guarda a sua saída; guarda a sua entrada; e o guarda para sempre.
13. Salmos 145:20 - O Senhor guarda os crentes que O amam.
14. Jeremias 31:3 - O amor de Deus para com o crente é eterno.
15. Jó 5:19 - O crente é guardado do mal (Sl.91: Jo.17:9-26).
16. I João 5:18 - O crente é guardado do maligno (IITs.3:3; Jr.31:11).
17. Judas 24 - O crente é guardado para não tropeçar (ISm.2:9; Is.63:13).
18. João 11:9 - A fé do crente não lhe permite tropeçar (Rm.9:31-33) .
19. Provérbios 10:25 - O crente tem perpétuo fundamento (IITm.2:19; ICo.3:11).
20. I Pedro 1:5 - O crente é guardado pela fé no poder de Deus.
21. Hebreus 12:2 - Jesus é o Autor da fé, e por isso, o crente não pode perdê-la (Fp.1:29; ICo.3:5; At.18:27; Gl.5:22; IITs.3:2).
22. Romanos 16:25 - O crente é guardado pelo poder de Deus (IITm.1:12; Jd.24).
23. Hebreus 6:17 - A salvação do crente se fundamenta em duas coisas imutáveis: a) a promessa (Js.21:45; At.13:32; IICo.1:20; Ef.3:6; Hb.9:14,15;10: 23; IJo.2:25); b) o juramento (Hb.6:16). Só a promessa, sem o juramento já era em si mesma suficiente, mas Deus querendo mostrar a imutabilidade daquilo que Ele decretou, foi além da promessa, fazendo juramento. E Deus foi ainda mais além quando jurou pelo Seu próprio nome, porque não havia outro nome superior ao Seu (Hb.6:13,16; Jr.44:26;Nm. 23:19).
24. Salmos 37:33 - O crente jamais será condenado (Sl.89:30-35; ICo.11:32).
25. Salmos 37:23,24 - Se o crente cair, não ficará prostrado (Sl.145:14; Pv.24:16; Jó 4:4; Rm.14:4;Mq.7: 8).
26. Salmos 121:3 - O crente pode cair da graça (Gl.5:4), mas jamais cairá para a perdição (Sl.17:5;66: 9).
27. Isaías 46:3,4 - O crente é conduzido por Deus até o fim (Sl.121:8).
28. I Coríntios 10:13 - A tentação não pode condenar o crente (Rm.6:14,18; IIPe.2:9).
29. João 4:14 - O crente jamais terá sede (Lc.16:24).
30. João 5:24 - O crente já passou da morte para a vida.
31. Romanos 6:8,9 - O crente já morreu com Cristo (IITm.2:11).
32. I Pedro 1:3,4 - O crente foi regenerado para uma viva esperança.
33. I Pedro 1:23 - O crente foi regenerado pela Palavra de Deus.
34. I João 3:9 - O crente foi regenerado pelo Espirito Santo (Jo.3:5; Tt.3:5).
35. João 6:37-40 - O crente jamais será lançado fora.
36. João 6:47 - O crente já possui a vida eterna (IJo.5:11-13; ITm.6:12).
37. João 10:28 - O crente não pode ser arrancado da mão do Filho.
38. João 10:29 - O crente não pode ser arrancado da mão do Pai.
39. Lucas 15:3-10 - Há alegria no céu por um pecador que se arrepende.
40. João 10:27 - O crente é conhecido do Senhor (Jo.10:14; IITm.2:19; ICo.8:3; Gl.4:9; Mt.7:21-23).
41. Mateus 28:20 - Jesus está com o crente todos os dias até o fim dos séculos.
42. Romanos 8:1 - Nenhuma condenação há para o crente (Rm.8:33,34) .
43. Romanos 8:30 - Sendo justificado, o crente também será glorificado.
44. Romanos 8:28 - Todas as coisas cooperam para o bem do crente (Gn.50:20).
45. Romanos 8:35-39 - Nada poderá separar o crente do amor de Deus (Jo.13:1).
46. I Coríntios 3:15 - O crente infiel será salvo como pelo fogo (ICo.5:1-5;11: 29-32).
47. I Coríntios 1:8 - O crente será confirmado até o fim (Rm.16:25; IITs.3:3).
48. Filipenses 1:6 - Deus mesmo terminará a obra no crente (Fp.2:13).
49. Colossenses 3:3 - A vida do crente está escondida com Cristo em Deus.
50. Efésios 5:27 - A igreja será sempre irrepreensível (IICo.11:2; ICo.12:26,27) .
51. I Tessalonicenses 5:1-10 - O crente não será surpreendido na vinda do Senhor.
52. II Timóteo 2:13 - O crente infiel será salvo pela fidelidade de Deus (Rm.3:3).
53. Hebreus 13:5 - O crente jamais será abandonado por Deus.
54. I João 5:1 - O crente é nascido de Deus, e não pode "desnascer"
55. I Pedro 1:4 - O crente possui a natureza divina.
56. Romanos 8:9-11 - O crente é propriedade de Cristo (ICo.6:19,20) .
57. I Tessalonicenses 5:23,24 - O crente é conservado irrepreensível.
58. I João 5:16 - O crente não pode pecar para a morte eterna (IJo.3:9;5:18) .
59. I Coríntios 12:3 - O crente não pode blasfemar contra o Espírito Santo (Mt.12:32; Mc.9:39,40;Lc. 11:23; IJo.5:10; Jo.3:33).
60. I João 2:19 - O crente é perseverante na fé (Mt.10:22;24: 13; IIJo.9; Ap.13:10;14: 12).
61. João 10:26 - O crente é ovelha e não porca lavada (IIPe.2:20-22) .
62. João 13:10 - O crente já está limpo do seu pecado (Jo.15:3).
63. I Coríntios 1:30 - Cristo é a justiça do crente.
64. I Coríntios 1:30 - Cristo é a santificação do crente.
65. I Coríntios 1:30 - Cristo é a redenção do crente.
66. Salmos 25:20 - Deus é o refúgio do crente (Hb.6:18).
67. I João 2:22,23 - O crente não pode negar o filho (Mt.10:33; IITm.2:12).
68. Romanos 8:37 - O crente sempre será vencedor (Jo.16:33; Ap.2:7,11,17, 26;3:5,12, 21).
69. I João 5:4 - O crente vence o mundo.
70. I João 2:14 - O crente vence o diabo (IJo.4:4; Ap.12:11).
71. Romanos 6:14 - O crente vence o pecado (a carne).
72. Romanos 11:29 - O dom de Deus é irrevogável.
73. João 19:30 - Todo o pecado do crente está consumado.
74. Gálatas 3:13 - O crente foi resgatado para sempre da maldição da lei.
75. Apocalipse 5:9 - O crente foi comprado com sangue (ICo.6:20;7: 23; IPe.1:18,19) .
76. Salmos 90:17 - É Deus quem efetua a obra no crente (Jo.3:21; Ef.3:20; Is.26:12;64: 4; Fp.2:13).
77. João 17:20 - Cristo intercedeu pelos crentes, e continua intercedendo (Hb.7:25; IJo.2:1; Rm.8:34).
78. Romanos 8:26,27 - O Espírito Santo intercede pelo crente.
79. II Coríntios 1:20 - Jesus é o "Amém" das promessas de Deus (Jo.6:47).
80. I Pedro 4:1 - O crente já cessou do pecado (Rm.6:14; IJo.3:9).-- Márcio Melânia

Certitudo Salutis: A Certeza da Salvação

por
Oslei Nascimento
 
1. Definições e comentários introdutórios.

Por mais incrível que possa parecer, trabalhar sobre o tema certeza da salvação não é uma tarefa das mais fáceis! Quando o Dr. Augustus Nicodemus Lopes [1] palestrou e escreveu sobre a certeza da salvação a partir do conceito puritano, alertou seus ouvintes e leitores acerca do aspecto estritamente doutrinário do assunto e pediu a maior atenção possível, buscando obter atenção dobrada. Entendemos que, para ele, dissertar sobre essa segurança seria um trabalho delicado, ainda mais dentro do conceito puritano. A dificuldade surge da variedade de interpretações que este tema recebe das teologias: católica e reformada, com seus argumentos fundamentados em textos bíblicos que os comprovam. Assim, se já é difícil compreender a certeza da salvação plenamente, quanto mais defini-la!

Nem todos os autores e estudiosos preocupam-se em definir certeza da salvação. Alguns comentam, explicam, avaliam e comparam, mas não definem - como Pearlman e Chafer, por exemplo. É claro que outros, não apenas fazem o mesmo, mas também definem: a Enciclopédia Histórico-Teoló gica da Igreja Cristã define a certeza da salvação como "a confiança do crente em Cristo de que ele, a despeito da sua condição pecaminosa mortal, é, de forma irrevogável, um filho de Deus e um herdeiro do céu" [2], afirmando que esta convicção pode ser experimentada por todo cristão, haja visto que, o próprio Deus lhe dá esta certeza.
Já Murray, por sua vez, a define assim: "Quando falamos de certeza da fé nos referimos à certeza nutrida por um crente que está em estado de graça e salvação, o conhecimento que ele tem de que está salvo, passou da morte para a vida e tornou-se possuidor da vida eterna e de uma herança na glória". [3] Geoffrey define-a de maneira muito simples e agradável. A segurança da salvação é aquela que o crente possui e lhe dá a certeza de que é um crente e que o capacita a dizer "eu sei que meus pecados estão perdoados; eu sei que vou para o céu; eu sei porque...", e dá as razões. [4]

2. A certeza da salvação e o ato primário da fé.

Em seu Dicionário de Teologia, o assembleiano Andrade [5] colocou a frase em latim "Certitudo et gratiae praesentis et salutis aeternae" que significa a certeza da graça presente e da salvação eterna. E concluiu, destacando que a segurança da salvação deriva da justificação pela fé. Apresenta uma discordância, neste ponto, do conceito puritano, já que os reformadores, especialmente Lutero, associavam a certeza da salvação diretamente à justificação; enquanto que os puritanos, sob a influência de Theodore Beza, criam a certeza da salvação estar ligada à santificação. Ser salvo pela graça (o que está realmente ligado à justificação), não é a mesma coisa que ter certeza da salvação (derivada da santificação).

A maioria dos autores que cito, afirmam que há uma óbvia distinção entre a certeza da salvação e aquilo que é chamado ato primário da fé. O primário e direto ato da fé não é a crença de que somos salvos e somos herdeiros da glória eterna, mas sim, um ato de confiança a Cristo, graciosamente oferecido a nós no evangelho, no qual podemos ser salvos. O primeiro ato de salvação é crer em Cristo para a salvação, a certeza da fé é a convicção de que a salvação é nossa. Desde que a certeza da salvação ou segurança da fé é logicamente conseqüência ou reflexo do reconhecimento de Jesus Cristo como Salvador e Senhor, então não pode ser a essência deste primeiro ato de fé (esta certeza é chamada, portanto, de ato reflexo da fé).

Assim, sobre o sentido mais específico desta fé salvadora, Louis Berkhof, explica: "Há certas doutrinas concernentes a Cristo e Sua obra, e certas promessas feitas nele aos pecadores, que o crente aceita confiadamente e que o induzem a depositar em Cristo a sua confiança. Em resumo, o objeto da fé salvadora é Jesus Cristo e a promessa de salvação nEle". [6]

Berkhof, também afirma que o ato especial da fé salvadora consiste em receber Cristo e repousa nele como ele é apresentado no evangelho, conforme Jo 3:16-18: "Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Por quanto Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (Almeida, RA).

Mas isto não significa, entretanto, que este primário ato, de receber Jesus pela fé, deva ser entendido como sempre separado cronologicamente da certeza da salvação. É possível uma pessoa ser absolutamente salva sem saber ou ter certeza disso – mas ser salva! Por outro lado, esta convicção pode ser introduzida no ato da fé salvadora e ser instantaneamente registrada na consciência do crente.

Então, entende-se que uma pessoa pode receber Cristo através da fé salvadora e imediatamente ter impressa em sua consciência a certeza da salvação; outra pode também receber Cristo pela fé salvadora e levar algum tempo até que adquira a certeza da salvação e outra, ainda, pode ser sinceramente convertida a Cristo, mas não ter a certeza de que é salva – às vezes, até por não saber disso!

3. A certeza da salvação e a Confissão de Fé de Westminster.

É Geoffrey [7] quem afirma, portanto, categoricamente, que a segurança da salvação não é essencial para a fé salvadora. Conforme sua explicação, a pessoa pode ser uma cristã e não ter certeza, pode estar realmente salva, mas ter dúvidas. São descritas como crentes sinceros que sentem falta de segurança, duvidam da sua própria salvação. Refletem em seu caráter e personalidade a mansidão que o Senhor Jesus ordenou que aprendêssemos com ele e, demonstram a ação da graça em suas vidas, mas não têm qualquer convicção de serem salvos; embora tenham a certeza de que são crentes. Dessa forma, afirma que a segurança de salvação não é um fator primordial para que a fé salvadora esteja presente.

Robert Shaw concorda com Geoffrey em sua obra "The Reformed Faith" – ao explicar que a Confissão de Fé de Westminster sustenta estes argumentos quanto a certeza da salvação durante ou imediatamente após, ou não, da conversão a Cristo. Conforme este autor, tem sido ensinado por alguns, que qualquer um que crê em Cristo deve estar imediatamente consciente e convicto de sua salvação e que esta conscientizaçã o é a primeira evidência de que alguém esteja justificado.

Curiosamente, a Confissão de Fé faz completo silêncio quanto a veracidade desta evidência, informa Shaw. Ou ainda, ela claramente indica que esta conscientizaçã o é, de alguma forma, absolutamente inseparável da fé verdadeira. Esta conscientizaçã o, que podemos chamar, como já mencionamos anteriormente, de ato reflexo da fé, o conhecimento de que se tem crido e surge de reflexão, é sucessora do ato primário – ou primeiro – da fé, da conversão a Jesus Cristo.

Assim, determinando tudo aquilo que já foi discutido anteriormente, se a certeza da salvação é indispensável para a própria salvação e, se ela vem imediatamente após ou não o reconhecimento de Jesus Cristo como Salvador, Shaw explica que a Confissão de Fé de Westminster não considera essencial a segurança da salvação e graça à fé salvadora. E que, dessa forma, a Confissão admite também que uma pessoa pode crer em Cristo, e pode ser justificada por sua fé antes de obter a certeza de que está neste estado, justificada.

Certeza da salvação e justificação caminham muito próximas uma da outra. Acreditamos que, da mesma maneira que muitas pessoas têm grande dificuldade em experimentar da segurança da fé, assim também em compreender o processo da justificação e seus benefícios espirituais. .. muito provavelmente porque – talvez semelhantemente à certeza – ele não suscita sentimentos que identifiquem uma transformação interior. Antes, exige a fé mais pura e simples de que o fato se deu nos céus. O teólogo inglês J. I. Packer esclarece isto ao afirmar que: "A justificação é uma decisão jurídica conferida ao homem e não uma obra operada no interior do homem; é a dádiva divina de uma posição e de um relacionamento para com Deus e não de um coração novo. Não há dúvida que Deus regenera aqueles a quem justifica, mas essas são duas coisas distintas". [8]

Podemos concluir, portanto, que a certeza da salvação e seus benefícios podem ser experimentados e desfrutados por todo aquele que crê em Jesus Cristo como Filho de Deus, Salvador; mas, ainda assim, já que esta segurança não é indispensável para a fé salvadora, alguém pode crer em Cristo e pode não estar imediatamente consciente de que tem verdadeiramente crido para a salvação de sua alma. Nisto podemos contemplar a maravilhosa e soberana graça de Deus.

4. Bases neotestamentá rias.

É possível experimentarmos a plena certeza da salvação pelo simples testemunho de vida dos personagens bíblicos, tão conhecidos de todos nós. Tanto no Velho quanto no Novo Testamento encontramo-los vivendo impressionantes experiências, conseqüentes da alegria e esperança que depositavam em Deus. Teria Abraão abandonado sua terra e parentela para aquela terra que Deus lhe mostraria e, depois, ainda ter-se-ia permitido todas aquelas provas de fé se não cresse na fidelidade de Deus? Poderia Moisés aceitar o desafio de Deus de libertar o povo hebreu da escravidão no Egito e, viver todas aquelas aventuras se ele mesmo, não estivesse certo de que Deus seria fiel e cumpriria suas promessas?

Tanto nos evangelhos, quanto nas cartas paulinas e gerais podemos encontrar relatos de cristãos convictos de sua salvação, alegres por causa disso e da certeza do amor de Deus por eles. Caso não estivesse absolutamente certo de todas estas coisas, poderia o apóstolo Paulo ter escrito: "Ele me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2:20b)? Ou "Nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 8:39b)? Caso este dedicado servo de Deus não estivesse convicto de sua salvação poderia ele testemunhar tão poderosamente, ao escrever da prisão: "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia..." (2 Tm 4:7-8a)?

Também o evangelista João confirma: "Nós sabemos que já passamos da morte para a vida..." (1vJo 3:14a), repetindo palavras que ele próprio ouviu Jesus pronunciar: "... quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (Jo 5:24).

Temos, portanto, na Bíblia Sagrada, o registro do testemunho de centenas de vidas que servem como exemplo e estímulo para também nós cultivarmos em nossas vidas a segurança da salvação. O Dicionário Evangélico de Teologia confirma o que já vimos: "A doutrina da segurança espiritual é largamente ensinada no Novo Testamento, particularmente por Paulo, João e o autor de Hebreus". [9]

Se a vontade do Pai é que creiamos em seu Filho e, dessa forma, tenhamos vida eterna nEle, então não importa se nossa fé é fraca ou forte; importa que é fé depositada em Cristo, então é fé salvadora. Confiar em Cristo como Salvador, é fazer a vontade do Pai, portanto, se assim procedermos, podemos crer que estamos salvos! A obediência aos mandamentos de Deus ministra à nossa própria certeza o favor de Deus e a esperança da vida eterna.

5. Fundamentos espirituais.

Examinando o ensino bíblico descobriremos que, a segurança da salvação tem dois fundamentos (ou bases), um objetivo e outro subjetivo. Primeiro, fundamentado na autoridade objetiva da Palavra de Deus, o crente pode saber que foi escolhido desde a fundação do mundo e que Cristo já o justificou plenamente. Objetivamente, a certeza da salvação, portanto, não repousa sobre experiências emocionais, mas sobre a autoridade do testemunho da obra salvífica de Cristo. Por outro lado, subjetivamente, esta segurança envolve também a convicção pessoal criada pelo Espírito Santo no coração dos pecadores, de que foram perdoados, foram adotados na família de Deus como filhos amados e que pertencem a ele para sempre.

Estes dois fundamentos podem ser percebidos através das evidências que a maioria dos autores pesquisados mencionam, as quais vamos tratar a partir de agora: primeiro, os meios mais comuns que a graça propõe; segundo, o alicerce da Palavra de Deus; terceiro, a ministração do Espírito de adoção.

Podemos alcançar a convicção de nossa salvação pelos meios mais simples que a graça propõe. Podemos nos deixar convencer pelas evidências que o próprio Deus nos dá. O cultivo do hábito constante da oração, o louvor a Deus por meio de um hino, a leitura devocional e o estudo da Bíblia, a prática do evangelismo. .. trazem a certeza para dentro do nosso coração.

Uma outra evidência que temos para a certeza da nossa salvação é a fidelidade de Deus revelada na Palavra. Quando Deus faz uma revelação incondicional de sua fidelidade, esperamos que nenhum de seus filhos enfrente dificuldade em crer naquilo que ele mesmo prometeu. Podemos mencionar as promessas contidas em João 3:16, 4:14, 10:28; Romanos 8:1; 1 João 5:12 e outras. Lembremo-nos de que, o Senhor vela sobre sua Palavra, para a cumprir (Jeremias 1:12) como Ele mesmo disse por meio do profeta: "... a palavra que eu falar se cumprirá..." (Ezequiel 12:25).

Por fim, o testemunho interior do Espírito Santo na vida do cristão, como o apóstolo Paulo aponta: "O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8:16) e "E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!" (Gl 4:6). É uma segurança ministrada pelo Espírito de Adoção.

Um texto extraído da Internet traz uma interessante ilustração: Durante os últimos estágios da Segunda Guerra Mundial, o General Douglas MacArthur manteve a promessa que tinha feito ao povo das Filipinas quando foi forçado a deixar as ilhas em 1942. Ele retornou com tropas suficientes para ajudar os filipinos a retomar o seu país. Agradecido por sua ajuda quando todos pareciam perdidos, o governo em Manila orientou seus exércitos para começarem uma tradição: gritar o nome de MacArthur em cada chamada para a revista das tropas. Cada companhia designou um oficial que deveria responder, dizendo "Presente em espírito". Aquele gesto simbólico ajudou a garantir que a dedicação e a coragem do general permanecessem no coração dos soldados mesmo muito tempo depois de sua partida. [10] O Espírito Santo faz coisa semelhante em nossos corações. Ele clama "Paizinho" e prova que Deus é nosso Pai e nós, somos seus filhos. Assim, se você clama, está no caminho do céu, pode ter certeza da sua salvação.

6. Últimas considerações.

Um tema que parece tão simples a princípio revela-se desafiador e fascinante! Apesar de não ser considerado indispensável para a fé salvadora – de forma que alguns crentes serão salvos mesmo sem ter, sequer conhecimento disso – a certeza da salvação contribui para o desenvolvimento da própria fé, para o crescimento espiritual e para o aperfeiçoamento da vida cristã. Como escreveu Berkhof: "O conceito correto parece ser que a fé verdadeira, incluindo, como inclui, confiança em Deus, importa naturalmente em um sentimento de segurança e certeza, embora isso possa variar em grau". [11]

Como já mencionamos acima, nem sempre o crente pode estar consciente dessa segurança, haja visto que nem sempre vive plenamente a vida de plena confiança e não toma consciência das bênçãos espirituais que lhe são reservadas. Portanto, quando nos encontrarmos sob a influência de dúvidas e incertezas, devemos buscar cultivá-la, de todas as maneiras que o próprio Deus tem colocado ao nosso alcance, sendo que Ele prometeu não apenas salvar-nos, mas também sustentar-nos.

Como pudemos ver anteriormente, a obtenção e a constância da nossa certeza não depende de elementos externos, mas através do cultivo do hábito da oração, o estudo das promessas de Deus reveladas na Bíblia, e pela busca de uma vida transformada, na qual é evidente o fruto do Espírito, ela pode ser alcançada, cultivada e fortalecida.

sábado, 9 de agosto de 2008

Arminianos, ouçam Armínio!

A posição evangélica dominante nos dias de hoje identifica-se com o teólogo holandês Jacó Armínio, pelo que nos debates teológicos é designada como arminianismo. O que muitos não sabem é que Armínio era bem mais "calvinista" que os arminianos atuais imaginam ou gostariam de saber. Se eles soubessem o que ele escreveu a respeito de alguns assuntos importantes no debate sobre a salvação, poderiam não se tornar calvinistas, mas pelo menos seriam arminianos melhores.

Descobririam, por exemplo:

a) Que ele recomendava a leitura da obra de Calvino

"Depois da leitura das Escrituras..., e mais do que qualquer outra coisa,... eu recomendo a leitura dos Comentários de Calvino ... Pois afirmo que na interpretação das Escrituras Calvino é incomparável, e que seus Comentários são mais valiosos do que qualquer coisa que nos tenha sido legada nos escritos dos pais — tanto assim que atribuo a ele um certo espírito de profecia no qual ele se encontra em uma posição distinta acima de outros, acima da maioria, na verdade, acima de todos." (Carta escrita a Sebastian Egbertsz, publicada em P. van Limborch e C. Hartsoeker, Praestantium ac Eruditorum Virorum Epistolae Ecclesiasticae et Theologicae (Amsterdam, 1704), nº 101).

b) Que ele cria na doutrina da providência

"Nesta definição de Providência Divina, eu de forma alguma a privo de qualquer partícula daquelas propriedades que concordam ou pertencem a ela; mas eu declaro que ela preserva, regula, governa e dirige todas as coisas e que nada no mundo acontece acidentalmente ou por acaso. Além disto, eu coloco em sujeição à Providência Divina tanto o livre-arbítrio quanto até mesmo as ações de uma criatura racional, de modo que nada pode ser feito sem a vontade de Deus, nem mesmo as que são feitas em oposição a ela , somente devemos observar uma distinção entre as boas e as más ações, ao dizer, que "Deus tanto deseja e executa boas ações," quanto que "Ele apenas livremente permite as que são más." Além disto ainda, eu muito prontamente admito, que até mesmo todas as ações, sejam quais forem, relativas ao mal, que possam possivelmente ser imaginadas ou criadas, podem ser atribuídas ao Emprego da Divina Providência, tendo apenas um cuidado, "não concluir deste reconhecimento que Deus seja a causa do pecado." (Works, vol 1: The providence of God)

c) Que ele cria nos decretos divinos

"Os decretos de Deus são os atos extrínsecos de Deus, ainda que sejam internos, e, por essa razão, feitos pelo livre-arbítrio de Deus, sem qualquer necessidade absoluta . Todavia um decreto parece exigir a suposição de outro, a bem de uma certa conveniência de igualdade; como o decreto relativo à criação de uma criatura racional, e o decreto relativo à salvação ou condenação [dessa criatura] sob a condição de obediência ou desobediência. A ação da criatura também, quando considerada por Deus desde a eternidade, pode algumas vezes ser a ocasião, e algumas vezes a causa motriz externa de criar algum decreto; e isto de tal forma que sem tal ação [da criatura] o decreto não seria nem poderia ser feito. (...) Embora todos os decretos de Deus foram feitos desde a eternidade, todavia uma certa ordem de prioridade e posterioridade deve ser formulada, de acordo com sua natureza, e a relação mútua entre elas." (Works, vol 2: On decree of God)

d) Que ele cria na predestinação

"O primeiro na ordem dos decretos divinos não é o da predestinação, pela qual Deus preordenou para fins sobrenaturais, e pela qual ele resolveu salvar e condenar, declarar sua misericórdia e sua justiça punitiva, e ilustrar a glória de sua graça salvadora , e de sua sabedoria e poder que concordam com aquela mais livre graça.(...) Os eleitos não são chamados "vasos de misericórdia" na relação de meios para o fim, mas porque a misericórdia é a única causa motriz, pela qual é feito o próprio decreto da predestinação para salvação." (Works, vol 2: On predestination to salvation)

e) Que ele cria na imperdibilidade da salvação

"Embora eu aqui, aberta e sinceramente, afirmo que eu nunca ensinei que um verdadeiro crente pode, total ou finalmente, abandonar a fé, e perecer; todavia não nego que haja passagens da Escritura que me parecem apresentar este aspecto; e as respostas a elas que tive a oportunidade de ver não se mostraram, em minha opinião, convincentes em todos os pontos. Por outro lado, certas passagens são fornecidas para a doutrina contrária [da perseverança incondicional] que merecem especial consideração." (Works, vol 1: The perseverance of the saints).

De minha parte, ficaria muito feliz se os atuais arminianos firmassem posição com Jacó Armínio. Pois já estaríamos no lucro.

Copiado de: http://cincosolas.blogspot.com/2008/08/arminianos-ouam-armnio.html
--

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Algumas coisas que os não-calvinistas
deveriam saber sobre o Calvisnimo

por

Colin Maxwell


Esta é uma tentativa de corrigir alguns dos mal-entendidos sobre o Calvinismo. Isto não pretende ser uma defesa doutrinária detalhada das Doutrinas da Graça.

1) Calvinismo e Hiper-calvinismo são pólos opostos. Os termos não devem ser usados como sinônimos. Um hiper-calvinista não é apenas um calvinista zeloso. Ambos consideram o outro como calvinistas “mistos”. Ninguém chama a si mesmo de hiper-calvinista.

2) Sim, os calvinistas se dividem em várias facções. Mas existem muitas escolas doutrinárias, e.g. Dispensacionalismo, Governo da Igreja, Adoração... nós cantamos somente Salmos ou usamos hinos? Quais hinos? Nós usamos música? Qual música? Com que conjunto de textos nós baseamos nossa tradução da Bíblia? É o Textus Receptus que é importante ou a (KJV) AV ? Ou ambos? Etc.

3) O termo livre-arbítrio precisa ser definido para evitar confusão. Calvinistas poderão afirmá-lo ou negá-lo, dependendo do que eles acham que você quis dizer... Isto algumas vezes leva a acusações de contradição. Consulte as Confissões Calvinistas padrão, e.g. a Confissão de Fé de Westminster, capítulo 9, para uma definição de termos.

4) O termo livre agência não é automaticamente o mesmo que livre-arbítrio quando usado por um calvinista. Ele é o termo calvinista preferido para livre-arbítrio. Preferido de forma a evitar a confusão tratada no ponto acima.

5) Calvinistas acreditam na responsabilidade do homem, mas negam sua capacidade de arrepender-se e crer no Evangelho. Os dois termos não são sinônimos. Calvinistas crêem que a incapacidade do homem de arrepender-se e crer é causada por seu próprio pecado, e a sua incapacidade não anula a sua responsabilidade.

6) Calvinistas não acreditam que os homens são fantoches, bonecos de madeira ou robôs, mas seres responsáveis e tratados assim por Deus, mesmo quando decaídos.

7) Calvinistas não são fatalistas. Calvinistas acreditam que Deus ordenou o fim e também os meios para este fim. Portanto, eles crêem no evangelismo como o meio que Deus usa para cumprir sua intenção de salvar os eleitos. Não é verdadeiro dizer que os calvinistas acreditam que Deus salva homens sem o Evangelho. Calvinistas acreditam em oração.

8) Calvinistas acreditam que é obrigação dos homens arrependerem-se e crerem no Evangelho. Esta é um de nossas disputas com alguns hiper-calvinistas.

9) Calvinistas acreditam que o Evangelho deve (para citar Calvino) ser pregado indiscriminadamente aos eleitos e réprobos (Comentário de Isaías 54:13), visto que não sabemos quem são eles, mas somente Deus.

10) Calvinistas não limitam o valor ou mérito ou dignidade do sangue de Cristo. Eles limitam a intenção do sangue para salvar qualquer um além dos eleitos. Nós estamos satisfeitos o bastante (como estava João Calvino) com a afirmação de que o sangue de Cristo é suficiente para o mundo inteiro, mas eficiente somente para os eleitos.

11) Calvinistas não pregam apenas os Cinco Ponttos e nada mais. Pelo menos não mais que Dispensacionalistas que pregam apenas sobre profecias ou Pentecostais que só pregam sobre os dons do Espírito, etc.

12) Calvinistas não lêem os Cinco Pontos em todos os textos da Escritura. Muitos dos maiores comentários bíblicos, amados e valorizados por todos os cristãos (e.g, Mattew Henry) foram escritos por calvinistas.

13) Calvinistas acreditam que os homens podem resistir ao Espírito Santo. Eles acreditam que mesmo os eleitos podem resistir ao Espírito Santo, e o fazem... mas somente até o momento em que o Espírito regenera seus corações de forma que não resistam mais a Ele. Os não-eleitos efetivamente resistem a ele por toda a vida.

14) Calvinistas não acreditam que todos os homens são levados se debatendo e gritando irresistivelmente a Cristo. Nós acreditamos na graça irresistível. A vontade não é ignorada na salvação. Nenhum homem vem a Cristo involuntariamente, ou se lamenta por ter sido trazido.

15) Calvinistas não acreditam que existam almas lá fora que querem ser salvas, mas não podem ser salvas porque não são eleitas.

16) Calvinistas, sem ter acesso ao Livro da Vida do Cordeiro, vêem todo homem como potencialmente eleito e pregam o evangelho a ele.

17) Calvinistas acreditam na eleição incondicional mas eles não acreditam na salvação incondicional. A não ser que o homem nasça de novo, ele não entrará no Reino dos céus (João 3:3). A não ser que ele se arrependa, ele perecerá (Lucas 13:3). A não ser que seja convertido, etc... todas estas são condições da salvação.

18) Calvinistas acreditam que a regeneração precede a fé em Cristo. Nós não confundimos o termo regeneração com justificação ou salvação. O Espírito de Deus regenera o pecador eleito capacitando-o a abandonar seu pecado e voluntariamente abraçar a Cristo e então ser justificado pela fé e salvo pela eternidade. Regeneração, portanto, não é sinônimo de justificação ou salvação assim como convicação de pecado não é sinônimo de conversão a Cristo.

19) Perseverança dos santos não significa que os calvinistas crêem que eles podem levar sua querida vida sem qualquer referência a observar o poder de Deus. Isto simplesmente significa que nós cremos que os cristãos provarão ser vencedores, de acordo com 1 João 5:4-5, etc...

20) Alguns calvinistas usam a frase redenção particular em oposição à expiação limitada porque eles podem ver como a posição da redenção geral também limita a expiação, embora de uma forma diferente, isto é, ela não realiza a tudo que se pretende.

21) Calvinistas não acreditam que João Calvino era infalível... não mais que Metodistas acreditam que João Wesley foi infalível ou Dispensacionalistas dão a Schofield ou John Darby a palavra final.

22) Embora os calvinistas creiam que a graça salvadora e o arrependimento são dons de Deus, dados somente a seus eleitos, eles não crêem que Deus exercita a fé por eles ou arrepende-se por eles. O pecador eleito, capacitado pelo poder de Deus, realmente se arrepende e crê por si mesmo.

23) Embora possa não haver um meio-termo real entre a posição calvinista e aquela dos não-calvinistas, ainda assim muitos calvinistas acreditam que os dois lados realmente pregam o Evangelho. Apesar de nossas diferenças em muitos dos detalhes, um homem que prega que Cristo morreu pelos ímpios e que a obra foi suficiente para salvar aquele que se arrepende e crê está realmente pregando o Evangelho. Nós nos regozijamos na pregação do Evangelho de John Wesley tanto quanto na de George Whitefield, apesar de (naturalmente) considerarmos Whitefield um teólogo melhor.

24) Não há nenhuma contradição ou paradoxo entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Em nenhum lugar a Escritura diz que o homem é responsável porque ele é livre, ou seja, a afirmação de que a responsabilidade pressupõe a liberdade é uma falácia. Pelo contrário, a Escritura ensina que o homem é responsável porque Deus, que é soberano, o considerada assim. Além do mais, Paulo, em Romanos 1, afirma que é o conhecimento inato do homem que o torna responsável pelos seus atos, e não a sua suposta liberdade. Isso está de acordo com o que Jesus diz em João 9:41: “Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado”.

25) Embora os calvinistas creiam que até mesmo atos pecaminosos são ordenados por Deus (Efésios 1:11/Provérbios 16:4), isso não faz de Deus o autor do pecado. Concordamos com o Dr. Clark, que ao escrever seu livro sobre o problema do mal, disse: “Deus não é o autor deste livro, como os arminianos seriam os primeiros a admitir; mas ele é a causa última dele, como a Bíblia ensina. Todavia, eu sou o autor. Autoridade, portanto, é um tipo de causa, mas há outros tipos. O autor de um livro é a sua causa imediata; Deus é a sua causa última... Deus não comete mais pecado do que ele está escrevendo essas palavras”.



Então, aqui está. Eu não espero que esta lista realmente convença alguém da verdade da posição calvinista. Isto não intenta ser uma defesa doutrinária do Calvinismo. Eu dei poucas referências porque queria manter curto e de fácil acesso. As confissões calvinistas padrão (isto é, a Confissão de Fé de Westminster, etc.) devem ser consultadas para afirmações definitivas. O Dictionary of Theological Terms (Rev. Alan Cairus) é uma ferramenta inestimável. Espero que esclareça mais que alguns poucos mal-entendidos. É desanimador ao extremo ver uma caricatura de sua fé ridicularizada. Talvez alguém do outro lado da batalha (não-calvinistas) possa esforçar-se e esclarecer alguns mal-entendidos que os calvinistas porventura tenham.


Traduzido, modificado e expandido por: Josaías Cardoso

Agradecemos ao tradutor, que gentilmente se dispôs a traduzir esse artigo para o site Monergismo.com.

Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/. Exerça seu Cristianismo: se vai usar nosso material, cite o autor, o tradutor (quando for o caso), a editora (quando for o caso) e o nosso endereço. Contudo, ao invés de copiar o artigo, preferimos que seja feito apenas um link para o mesmo, exceto quando em circulações via e-mail.


http://www.monergismo.com/

Este site da web é uma realização de
Felipe Sabino de Araújo Neto®
Proclamando o Evangelho Genuíno de CRISTO JESUS, que é o poder de DEUS para salvação de todo aquele que crê.

TOPO DA PÁGINA

Estamos às ordens para comentários e sugestões.

Livros Recomendados

Recomendamos os sites abaixo:

Monergism/Arquivo Spurgeon/ Arthur Pink / IPCB / Solano Portela / Spurgeon em Espanhol / Thirdmill
Editora Cultura Cristã /Editora Fiel / Editora Os Puritanos / Editora PES / Editora Vida Nova

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...